Para muitos a extrema dedicação de Heath Ledger ao se aprofundar no personagem ‘Coringa’ em “Batman – O Cavaleiro das Trevas” foi um dos motivos que o levaram a morte. Interpretar o Coringa teria obrigado o ator a mergulhar em um mundo de psicopatia e caos. Uma grande evidência disso é o “Diário do Coringa”, onde o ator teria anotado o processo de se tornar o personagem.
“Ele trancou-se em um hotel, em seu apartamento, por um mês. Ele queria que o personagem entrasse em sua própria mente”, diz o pai de Heath, Kim Ledger, que divulgou o material para o documentário alemão “Too Young to Die”.“Isso era típico de Heath em qualquer filme. Ele certamente mergulhava em seus personagens. Acredito que neste foi em um nível totalmente novo”, completa o pai.
Abaixo vamos fazer uma jornada através do material, e analisar os detalhes desse diário.
1. Assustadoramente infantil
Já na capa somos somos surpreendidos pela tom infantil para um material tão pesado. No título parece estar escrito “Composition – The Joker”. Durante meses o ator anotou e criou técnicas e trejeitos para trazer o palhaço do crime a vida com a maior realeza possível.
2. Maníacos como modelos
Uma das grandes inspirações do ator para interpretar Joker foi Alex, de Laranja Mecânica. O ator entrou em um exílio para compôr o personagem. O pai relembra que “Ele sempre, sempre se dava todo para o próximo personagem. Isso era típico dele. Ele fazia sempre. Caia de cabeça em personagens, mas dessa vez ele havia ido longe demais”.
3. Capturando o Coringa
Um dos grandes trunfos na atuação de Ledger é a originalidade do personagem, mas o ator parece também ter buscado referências nas versões dos quadrinhos, como mostra a página esquerda. Já na página da direita, identifiquei o texto como sendo parte do diálogo que o Coringa faz ao gangster Gambol, personagem interpretado pelo excelente ator Michael Jai White. No diálogo, o Coringa conta uma história… “Quer saber a origem destas cicatrizes? Meu pai era… um bêbado… e um viciado. Certa noite, ele chegou em casa mais doido do que de costume. Minha mãe pegou a faca da cozinha para se defender. Ele não gostou… nem um pouco. E então, comigo olhando… ele enfiou a faca nela, rindo enquanto fazia isso. Ele se virou para mim e disse: “Por que tão sério? Aproximou-se com a faca. “Por que tão sério?” Enfiou a lâmina na minha boca. “Vamos botar um sorriso nessa cara. E… Por que tão sério?”.
Na imagem também é possível ver uma lista de coisas que fazem o Coringa sorrir: Bebês cegos, minas terrestres, AIDS, animais de estimação em acidentes de estrada, estatísticas, caixa de lápis, brunch e a tabela periódica dos elementos. Bom, pelo menos ele curte umas mina…
4. Exílio do Mal
Antes de sua morte, o próprio Ledger falou sobre as circunstâncias que o levaram a criar o diário para o personagem, e assim acabou por si mesmo aprendendo a falar a mesma linguagem sociopata do Coringa. Em entrevista a publicação americana Empire, ele disse:
“Eu sentei em um quarto de hotel em Londres por mais ou menos um mês, me tranquei, comecei um diário e experimentei com vozes – isso foi muito importante para eu conseguir encontrar uma voz e risada icônicas para o personagem. Eu acabei aterrizando no reino de um psicopata – alguém que não tem quase nenhuma consciência de suas ações. Ele é simplesmente um completo sociopata, um assassino de sangue-frio, um palhaço genocida e Chris me deu liberdade total sobre ele. O que é divertido, porque não tem limites com o que o Joker falaria ou faria. Nada intimida ele e tudo é uma GRANDE PIADA.
5. “O Robocop do governo é frio, não sente pena, só ódio e ri como a hiena.”
Parte da tática de Ledger de criar um psicopata envolvia até mesmo referências em animais, como as hienas. Apesar de serem caçadores eficientes, grande parte da alimentação das hienas é à base de carcaças que encontram ou que roubam a outros carnívoros. Os próprios agentes do caos da natureza! Porém, ao personagem, podem ter servido como inspiração de alguma forma para sua risada no filme.
6. Teste de Maquiagem (e possível nota de Christopher Nolan)
Um grande detalhe dessa parte do diário é a nota ao lado, assinada por Chris. A mensagem aparece cortada no vídeo, que é curto, mas ao prestar atenção, consigo identificar alguns pontos principais. Como Nolan agradecendo Heath pelo “hard work” (bom trabalho) e “dedication” (dedicação) ao “papel experimental”. Os dois se tornaram amigos durante a produção do filme, Nolan ficou devastado com a morte de Ledger.
7. O Triste Adeus
O diário acaba com uma mensagem em sua última página. “Bye, Bye” dizia Ledger ao personagem. Com a morte do ator, a mensagem emociona… “Após o término das gravações, ele escreveu ‘adeus’ atrás da última página do diário. Foi tão difícil ler isso” disse seu pai Kim.
O aftermath.
Todos nós, fãs, sentimos a perda do ator como alguém que admirávamos, mas apenas a família entende a verdadeira tristeza de perder um filho, um irmão, um ente querido. Em uma última mensagem, o pai do ator dá um depoimento emocionante e triste ao mesmo tempo sobre a atuação do filho e é com ele que fecharemos este artigo.
“Haviam tantas nuances que pertenciam ao Heath no personagem (Coringa) que nós como família podíamos perceber porque nós entendíamos que seu senso de humor estava se sobressaindo no personagem o tempo todo. Ninguém entendia isso, mas algumas expressões que ele usava, o jeito que ele movia as mãos, tudo isso era apenas parte DELE MESMO como personagem. Então, provavelmente se a gente sentasse agora pra assistir você provavelmente iria rir muito e dizer meu deus, isso é ele brincando com o personagem.”
Um gênio! Foi cedo.
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