Crítica – Maníaco do Parque

“Maníaco do Parque” se vende como “true crime” e entrega uma ficção sobre o que o massacre poderia ter sido.

O caso do Maníaco do Parque chocou o Brasil inteiro na década de 1990. Uma série de desaparecimentos de mulheres na zona sul de São Paulo espantaram a população. Logo, foram sendo descobertos os corpos das vítimas, revelando-se todos os assassinatos por um mesmo responsável: Francisco de Assis Pereira. Francisco estuprou e matou, ao menos, sete mulheres e tentou assassinar outras nove, em 1998, mas ele confessou 11 assassinatos e 23 ataques, sendo condenado por crimes de estupro, estelionato, atentado violento ao pudor e homicídio.

No dia 16 de Outubro chega na Prime Video o longa-metragem baseado em sua história, dirigido por Maurício Eça, conhecido pelos filmes “A Menina que Matou os Pais”, “O Menino Que Matou Meus Pais” e “A Menina que Matou os Pais: A Confissão”, baseados no caso de Suzane von Richthofen. O marketing dessa nova obra promete contar a história do “serial killer brasileiro” no formato de “true crime”, da mesma forma como vemos esse tipo de caso ser retratado no cinema norte-americano.

Maníaco do Parque – Amazon Prime Video (2024)

O projeto nasceu com a intenção de prestar uma reparação às vítimas do criminoso, em vez de focar a narrativa nele. No entanto, essa execução se perdeu no processo e não ocorreu conforme o esperado. A trama se concentra em uma jornalista novata, que aliás é uma personagem inteiramente fictícia, que conduz a investigação de forma muito mais eficiente que a polícia ou jornalistas experientes da época. Este é um dos principais problemas do filme: ele se apresenta como uma história baseada em fatos, mas tem como protagonista uma pessoa que nunca existiu.

Além disso, o roteiro demonstra um desconhecimento das práticas jornalísticas e é frequentemente usado para criticar o machismo dos anos 90. Embora essa abordagem possa parecer interessante, a execução é extremamente falha. Todos os diálogos são completamente expositivos, subestimando a inteligência do espectador e entregando explicações que não deixam espaço para reflexão.

Maníaco do Parque – Amazon Prime Video (2024)

A grande força de “Maníaco do Parque” está na atuação de Silvero Pereira, que traz à vida um assassino frio e apático que, mesmo com poucas falas, consegue dominar suas cenas e transmitir um olhar ameaçador e desprovido de qualquer humanidade. Seu trabalho é executado com seriedade para que seu personagem não seja em nenhum momento romantizado. No entanto, é lamentável que o roteiro não explore mais a profundidade de sua performance, condenando o ator à uma persona extremamente superficial. Giovanna Grigio, por sua vez, se esforça para dar vida a uma jornalista limitada por clichês, com diálogos extremamente infantis e uma trama que não a permite demonstrar seu talento. A relação da jornalista com seu pai é mencionada repetidamente, mas nunca ganha desenvolvimento, enquanto sua irmã surge apenas para oferecer explicações rasas sobre psicopatia, demonstrando um conhecimento quase nulo e ofensivo sobre o tema.

O maior problema do filme é o seu roteiro previsível e didático, que subestima a inteligência do espectador. A investigação do crime é desvendada sem nenhuma dificuldade, tornando a trama desinteressante e desprovida de originalidade. Além disso, a proposta inicial de dar voz às vítimas se perde em meio a uma execução rasa que sabota o impacto que a produção poderia ter causado. O sentimento que chega ao público quando sobem os créditos é que a preocupação em se apoiar no ativismo para o desenvolvimento da história era tão grande, que nenhuma outra parte da produção fora desenvolvida com o comprometimento necessário.

Maníaco do Parque – Amazon Prime Video (2024)

Uma das coisas que a equipe disse ao ressaltar a importância do “true crime” era mostrar para as pessoas, por meio da dramatização, o que aconteceu no passado e o quão horrendas foram as atrocidades cometidas. “Maníaco do Parque” falha nesse quesito e entrega um filme inteiramente ficcional, que promete dar voz as vítimas mas termina por retratá-las como mulheres ingênuas que caem facilmente na manipulação (não tão bem desenvolvida) de um homem desconhecido.

 

Crítica por Pedro Gomes.

Filme assistido no Festival do Rio – Rio de Janeiro Int’l Film Festival (2024)

 

Maníaco do Parque
Brasil, 2024, 103 min.
Direção: Maurício Eça
Roteiro: L.G. Bayão
Elenco: Giovanna Grigio, Silvero Pereira, Xamã
Produção: Marcelo Braga
Direção de Fotografia: Marcelo Trotta
Música: Ed Cortês
Classificação: 14 anos
Distribuição: Amazon Prime Video

 

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