Condução harmônica ao contar a história da formação da orquestra de Zahia Ziouani.
“Divertimento”, dirigido por Marie-Castille Mention-Schaar e lançado em 2022, é uma obra cinematográfica francesa que aborda, de forma sensível e realista, a história inspiradora de Zahia Ziouani (interpretada por Oulaya Amamra), uma jovem de 17 anos que sonha em ser maestrina, e sua irmã gêmea, a violoncelista, Fettouma (Lina El Arabi). Situado em 1995, o filme retrata a luta das duas irmãs para tornar a música clássica acessível a todos, mesmo enquanto enfrentam as dificuldades impostas por suas origens nos subúrbios parisienses.
Desde o início, o filme destaca as desigualdades de classes e as barreiras que a protagonista deve superar. O ambiente escolar evidencia as diferenças e conflitos étnicos e sociais, afirmando que o estudo e a prática da música clássica são frequentemente vistos como privilégios de um grupo elitista, apontado com a frase em um diálogo: “Privilégio é isso, você tem o melhor quando não precisa”, que resume bem essa realidade. Zahia vive em um dilema constante, e que embora compartilhe da paixão pela música, ela não se sente pertencente ao mundo artístico elitizado que deseja conquistar. Essa luta interna se torna uma das principais motivações narrativas da obra.

A direção de Mention-Schaar é marcada por uma estética realista e uma simplicidade que permitem que a beleza da história transpareça, até mesmo em detalhes. A filmagem das cenas musicais ao vivo confere uma autenticidade palpável, transformando cada apresentação em um momento potente. A construção narrativa, paralela ao desenvolvimento musical, enriquece a trajetória do próprio desenvolvimento de Zahia, ilustrando seu crescimento pessoal e artístico. A mixagem de som e o ritmo preciso da montagem, cuidadosamente elaborada, contribui para criar uma verdadeira sinfonia de sons, que inclui desde os instrumentos até os ruídos diegéticos dos ambientes e objetos de cena, refletindo o estado emocional da protagonista em busca de inspiração.

Além do contexto da luta de classes, o filme também aborda a disputa de gênero. A ambição de Zahia em um campo dominado por homens, especialmente em uma posição de liderança como a de maestrina, ressalta a dificuldade enfrentada por mulheres em alcançar reconhecimento e respeito. Todas as questões enfrentadas pela personagem, são filmadas de forma intimista e pessoal, principalmente quando observamos a dinâmica de cumplicidade entre Zahia e Fettouma. Juntas, elas compartilham momentos de esforços e frustrações, com as emoções de Zahia transparecendo em sua forma de reger e conduzir os ensaios da orquestra.
A criação da orquestra Divertimento simboliza não apenas um sonho, mas uma verdadeira quebra de barreiras. Zahia se torna um elo entre diferentes grupos, fazendo com que todos os músicos, independentemente de sua origem, trabalhem de forma harmônica. Essa mudança de padrões e de perspectivas, orquestrada, regida, guiada pela determinação da protagonista, reflete uma mensagem poderosa sobre inclusão e a capacidade da arte em unir as pessoas.

“Divertimento” é, portanto, um filme que combina sensibilidade e força narrativa, apresentando a história de Zahia Ziouani de forma honesta e respeitosa. A direção realista e cuidadosa, a atuação autêntica e a construção sonora, criam uma experiência que celebra a luta pela igualdade e inclusão no mundo elitista das artes clássicas.
Crítica por Matheus Monteiro.

Divertimento
França, 2022, 110 min.
Direção: Marie-Castille Mention-Schaar
Roteiro: Marie-Castille Mention-Schaar, Clara Bourreau
Elenco: Oulaya Amamra, Lina El Arabi, Niels Arestrup
Produção: Marc-Benoît Créancier, Olivier Gastinel
Direção de Fotografia: Naomi Amarger
Música: Elise Luguern
Classificação: 10 anos
Distribuição: Imovision










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