Crítica – Crônicas do Irã (آیه های زمینی)

Uma denúncia poderosa e necessária das restrições enfrentadas pelos iranianos em seu cotidiano.

“E se você não pudesse escolher o nome do seu filho?”, “E se você não pudesse escolher o que vestir?”, “E se suas tatuagens fossem fiscalizadas ao emitir CNH?”. Com essa premissa, “Crônicas do Irã” é um filme composto por nove histórias que retratam a repressão social em Teerã, proporcionando um choque de realidade ao apresentar o cotidiano de diversos personagens. A câmera, sempre estática, destaca os oprimidos, enquanto ouvimos, ao fundo, a voz do opressor.

Essas crônicas mostram como os iranianos precisam lutar por direitos básicos, como escolher o nome do filho e o que vestir. Os diálogos com as figuras de autoridade (sempre fora da tela) expõem o controle estatal e religioso sobre os cidadãos do Irã. Situações que nos parecem absurdas são, para eles, parte do cotidiano.

Crônicas do Irã – Imovision (2024)

Ali Asgari e Alireza Khatami denunciam a realidade de um país onde a liberdade individual é constantemente restringida por normas culturais, religiosas e políticas. Criticam a forma como o poder é exercido, forçando os cidadãos a lutar continuamente para manter sua dignidade, enquanto o sistema tenta tirá-la.

Desde o período pré-revolucionário até os dias atuais, uma série de eventos históricos moldou a sociedade iraniana contemporânea. As pessoas no país enfrentam censura severa, restrição da liberdade de expressão e violações dos direitos humanos. Após a Revolução Iraniana de 1979, o novo regime estabeleceu medidas repressivas para silenciar a dissidência e manter o controle sobre a população.

Crônicas do Irã – Imovision (2024)

A obra se destaca tanto pela forma quanto pelo conteúdo. O uso do minimalismo e da sugestão visual é poderoso, e a escolha de manter as figuras de autoridade fora da tela é essencial para dar visibilidade apenas aos oprimidos. A câmera estática e as crônicas em plano-sequência dão ao espectador uma sensação de pressão constante, aumentando a imersão no ambiente de opressão vivido em Teerã.

É um certo alívio assistir a alguns dos nove personagens questionando e desafiando essa autoridade, onde cada aspecto da vida pessoal está sujeito à regulamentação e ao julgamento moral. Perguntas de cunho pessoal e religioso em entrevistas de emprego abusivas e invasivas, bem como questionamentos sobre tatuagens para obter uma carteira de motorista, demonstram as lutas diárias das pessoas no Irã. O filme é uma contribuição significativa para o cinema iraniano contemporâneo, que continua a desafiar e questionar as estruturas de poder através da arte.

Crônicas do Irã – Imovision (2024)

Este é, sem dúvida, um filme que merece reconhecimento. Precisa alcançar o máximo de pessoas possível, e é uma honra ter um filme independente com tanto poder sendo distribuído no Brasil. A voz e a arte sempre serão as melhores armas contra a opressão.

 

Eu estou bêbado, você está louca. Quem nos levará para casa?

 

Crítica por Pedro Gomes.

 

Crônicas do Irã | آیه های زمینی
Irã, 2023, 77 min.
Direção: Ali Asgari, Alireza Khatami
Roteiro: Ali Asgari, Alireza Khatami
Elenco: Majid Salehi, Gouhar Kheir Andish, Sadaf Asgari
Produção: Ali Asgari, Milad Khosravi
Direção de Fotografia: Adib Sobhani
Música: Masoud Fayazzadeh, Alireza Alavian
Classificação: 12 Anos
Distribuição: Imovision

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