Iniciativa comemora os 200 anos de relações diplomáticas entre França e Brasil e a vocação de ambos os países para o cinema e a cultura
Diretoras francesas virão ao Festival apresentar seus longas e debater com o público após as sessões
Juliette Binoche vem ao Rio para apresentar seu primeiro filme como diretora.
O Festival do Rio 2025 participa da Temporada França-Brasil 2025, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. A programação envolve debates e encontros de negócios com a presença de talentos e profissionais franceses e brasileiros, para abordar o audiovisual do ponto de vista da indústria, da preservação e da formação. A programação conta ainda com uma mostra com filmes com foco em diretoras mulheres. A iniciativa é organizada pelo Institut Français e pelo Instituto Guimarães Rosa, com o apoio das embaixadas e dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores de ambos os países.
A França e o Festival do Rio
A edição de 2025 reforça – mais uma vez – a presença da França no Festival do Rio como um dos principais países representados no evento.
Em 2024, no âmbito do 26º Festival do Rio, Brasil e França assinaram um acordo inédito de cooperação para o setor audiovisual durante a abertura do RioMarket. O documento foi firmado pela Ministra da Cultura, Margareth Menezes, e pelo diretor de assuntos europeus e internacionais do CNC, Jérémie Kessler.
No Festival de Cannes deste ano, o Brasil foi o país de honra no Marché du Film, maior mercado do audiovisual no mundo. Mais de 600 profissionais brasileiros estiveram no Festival, com a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Essa afinidade se renova no contexto da Temporada França-Brasil, que celebra não apenas a proximidade cultural entre as duas nações, mas também o papel das trocas como eixo fundamental dessa relação. “O debate de ideias ocupa um lugar à parte em uma programação destinada, antes de tudo, a abrir novos espaços de diálogo e encontro”, destaca Anne Louyot, comissária-geral francesa da Temporada.
Para Ilda Santiago, diretora executiva e de programação do Festival do Rio, “essa conexão representa mais do que um intercâmbio cultural. É o resultado de uma relação de longa data e que enriquece a programação da edição 2025. Ampliar o espectro dessa presença com escolas de cinema, um encontro de negócios e uma delegação de talentos nos permite vislumbrar o Brasil como um mercado importante para o cinema francês e impulsionar as relações do audiovisual dos dois países”.
Filmes e mais filmes!
Um Olhar de Mulheres
Uma seleção de 74 produções e coproduções recentes serão apresentadas ao público do Festival do Rio e a atriz Juliette Binoche vem especialmente ao evento para promover seu primeiro filme como diretora, In-I in Motion.
A Carta Branca ao Forum des Images traz uma retrospectiva de produções exclusivamente dirigidas por mulheres, uma iniciativa do Festival do Rio e da Cinemateca Brasileira junto ao Forum des Images, espaço de referência em memória, educação e difusão do cinema de arte, sediado em Paris.
A mostra, no Rio e em São Paulo (na Cinemateca Brasileira) trará filmes de diretoras de destaque no panorama contemporâneo francês, e três delas estarão presentes no Brasil. Sophie Letourneur chega para apresentar seu mais recente longa de ficção, “A Aventura” (“L’Aventura”), além de dois anteriores, “Voyages en Italie” e “Énorme”. Blandine Lenoir traz “Zouzou” e “Annie Colère”. E Romane Bohringer, os longas “Amor Fora de Foco” (“L’amour Flou”) e seu mais recente filme, apresentado no Festival de Cannes deste ano, “Diga a Ela que A Amo” (“Dites-lui que je l’aime”). As três cineastas participarão de debates com o público após as exibições. A programação traz ainda “Saint Omer” (2022) de Alice Diop; “L’amour et les Forêts”(2023) de Valérie Donzelli; “Grand Central” (2013) e os celebrados “Vie Privée” (2025) de Rebecca Zlotowski, seleção de Cannes; e “Couture” (2025), de Alice Winocour, seleção de Toronto e San Sebastian.
Em contrapartida, o Forum des Images recebeu, na última semana de setembro, na França, uma mostra de documentários de diretoras brasileiras com a presença de três delas, que também participaram de encontros com o público local. Em Paris, o Festival do Rio e a Cinemateca Brasileira apresentaram obras de Sandra Kogut (“Passaporte Húngaro”, “No Céu da Pátria Nesse Instante”), Juliana Vicente (“Diálogos com Ruth de Souza”, “Racionais MCs – Das Ruas de São Paulo para o Mundo”) e Denise Zmekhol (“Pele de Vidro”, “Crianças da Amazônia”).
Preservando a história do cinema e seus arquivos
Em colaboração com o Centre National du Cinéma et de l’Image Animée (CNC), o Festival apresenta encontros voltados à preservação audiovisual, reunindo especialistas do Brasil e da França. A programação inclui a exibição especial de “Rien que les heures” (1926), média-metragem francês dirigido pelo cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti e recentemente restaurado pelo CNC, bem como “Mulher de Verdade” (1954), do mesmo diretor. Ambas as sessões serão seguidas de debates.
A especialista Laurence Braunberger, responsável pela restauração da obra de Alberto Cavalcanti, e Maria Dora Mourão, diretora da Cinemateca Brasileira, também participam de discussões abertas ao público, na sede do Festival do Rio, no Armazém da Utopia, sobre o passado, presente e futuro da preservação audiovisual nos dias de hoje.
Encontros de Negócios – Rendez Vous Unifrance
Voltado para o mercado do audiovisual, o Festival do Rio realiza pela primeira vez o encontro de mercado Rendez-vous Unifrance au Festival do Rio, para aproximar distribuidoras e exibidores da América Latina com vendedores de filmes franceses. Cerca de vinte empresas francesas virão ao Festival do Rio para uma agenda de negócios. A iniciativa visa reunir profissionais em mesas de discussão e encontros privados para fomentar ideias e negócios, favorecendo a circulação do cinema francês e europeu no Brasil. A ação é promovida pelo Festival do Rio em colaboração com a Unifrance, entidade responsável pela promoção internacional do cinema francês.
Falando de ensino e formação entre Escolas de Cinema e estudantes
O projeto Escolas e o Cinema, desenvolvido em parceria com o Institut Français e com a Universidade Federal Fluminense, reforça o compromisso do Festival do Rio com a formação, além de contribuir para estreitar os laços acadêmicos e culturais entre universidades da França e do Brasil. O programa reúne estudantes brasileiros e professores franceses e brasileiros, vindos de diferentes universidades dos dois países. Durante uma oficina intensiva de cinco dias, realizada na Universidade Federal Fluminense (UFF), os participantes produzirão coletivamente um curta-metragem que será exibido no final do Festival do Rio.
A programação inclui, ainda, a realização de mesas de debates abertas ao público sobre as experiências de ensinar o cinema, com as participações dos professores franceses Cécile Sorin, do departamento cinematográfico da Universidade Paris 8 (França), e Claude Mouriéras, diretor da Ciné Fabrique (Lyon, França). Além de espaços de troca exclusivos para professores (brasileiros e franceses) falarem sobre programas de intercâmbios entre as escolas de cinema.
A Temporada França-Brasil foi anunciada pelos presidentes Emmanuel Macron e Luiz Inácio Lula da Silva, e busca renovar os vínculos históricos e estimular a cooperação bilateral, tendo temas como meio ambiente, democracia e diversidade como alguns de seus principais eixos. Além disso, outro elemento importante da parceria é promover e celebrar a potência de ambas as culturas com projetos voltados à colaboração entre artistas, instituições culturais e pesquisadores. Na França, a iniciativa foi organizada de abril a setembro; no Brasil, o projeto acontece de agosto a dezembro.