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Tira Teima 616: Sobre a história da paternidade do Noturno ao longo dos anos

Estamos de volta depois de muito, muito tempo com o nosso Tira Teima 616, um quadro da nossa página que serviu em tempos aúreos do site para tirar toda e qualquer dúvida que surgia entre os fãs devido a alguma nova história que acabou de surgir. A ideia era sempre fazer uma vasta recapitulação do passado para discutir na maioria das vezes algumas “revisitações” ou “correções” de revistas recentes. Fizemos isso no passado com a origem da paternidade dos Gêmeos Maximoff ou mesmo polêmico pacto do Mephisto com o Homem-Aranha em One More Day. Anos depois, estamos aqui ressurgindo com mais um Tira Teima depois da internet virar do avesso com a (nova) revelação de que a Mística é o PAI do X-Men Noturno. 

 Noturno foi originalmente criado por Dave Cockrum para a revista da Legião dos Super-heróis da DC Comics, mas quis o destino que isso nunca fosse aprovado pelo editor da época e ele virou um personagem na galeria de criações do desenhista esperando o momento certo para surgir. E isso aconteceu em Giant-Size X-Men quando Len Wein precisou criar uma série de novo mutantes para uma formação mais diversa de X-Men.

Então, Cockrum trouxe o visual daquele personagem demoníaco para a Marvel e ele estreou como sendo a figura mais dramática de todos os novos X-Men naquela história clássica. Quando Chris Claremont assumiu a escrita de X-Men, ele viu muito potencial para ser aproveitado no personagem. Do mantra “odiados e temidos por aqueles que juraram proteger”, Noturno é certamente o que mais se enquadraria no perfil. É o membro da ‘Segunda Gênese’ dos X-Men que sequer consegue esconder o ‘monstro’ que as pessoas enxergam nos mutantes.

No final dos anos 70, inicialmente, Chris Claremont pretendia que o ser demoníaco da Marvel Pesadelo do Doutor Estranho fosse o pai do Noturno, e que a dimensão sulfúrica que Kurt Wagner teletransportava-se seria a do reino do Pesadelo. Mas o escritor do Doutor Estranho, Roger Stern, proibiu isso. Ele disse à revista ‘Back Issue’ em dado momento que “muitas pessoas no Universo Marvel estão secretamente relacionadas entre si, e é muito mais interessante quando os mutantes têm pais normais”. Curiosamente, Stern mais tarde se tornou editor de Claremont em X-Men.

Então Claremont apresentou outro plano para o editorial, trouxe a mutante Mística, que mudava de forma e era vilã original da Ms. Marvel, e a colocou ao lado de Sina para liderar a formação da nova irmandande de Mutantes na fase Claremont/Byrne. Mística parecia o Noturno e deu dicas sobre saber da ascendência do Noturno logo nos primeiros encontros com o jovem mutante. A ideia por muito tempo de Claremont era que Mística e Sina seriam os pais do Noturno, algo que só poderia ser feito graças a seus poderes transmorfos, mas foi barrado pelo editor da época, Jim Shooter.

Alguns anos depois, Claremont decidiu retornar a essa origem, mas disse à revista Comics Focus que “começamos a fazer sua origem e a história morreu em nós. Nós montamos, começamos a rolar, tentamos transformá-la em algo de valor, e morreu… Então, reescrevemos o final da história e, em vez disso, fizemos um com Rachel Summers, Wolverine e o Clube do Inferno, que levou ao Massacre dos Mutantes, que acabou sendo um enredo muito mais poderoso e eficaz.

Quando Noturno fazia parte do elenco de Excalibur, Claremont prometeu à revista ‘Amazing Heroes’ que tentaria novamente colocar sua ideia em andamento. “Uma das histórias com as quais tentaremos seriamente brincar é a origem do Noturno. Teríamos feito isso em X-Men, mas a história não funcionou, e decidi não fazê-la. Espero que agora tentemos novamente e dê certo. Todo mundo está se perguntando por que Noturno e Mística são parecidos”.

Então, uma história em quadrinhos derivada de Excalibur foi anunciada para 1990 por Claremont e Alan Davis, que prometia “a biografia de Kurt Wagner, o Noturno, desde seu nascimento até seu resgate nas mãos de Charles Xavier. Finalmente aprenderemos mais sobre a misteriosa conexão entre Noturno. e Mística”. Mas ela nunca foi publicada. Algo estava acontecendo nos bastidores do editorial mais uma vez na época. Chris Claremont saiu do título e por muito tempo não se falou mais em dar uma origem para o jovem mutante azul com orelhas de elfo.

Então, começou a rocambolesca era de Scott Lobdell nos X-Men e ele tomou para si a ideia de finalmente escrever a origem de Noturno na universalmente condenada X-Men Unlimited #4. Ele contou depois numa entrevista ao “Seriejournalen” o que havia acontecido:

“Sempre foi plano de Chris que Mística e Irene Adler (Sina) fossem amantes, e que Mística em um ponto se transformasse em um homem e engravidasse Sina e ela desse à luz ao Noturno. A probabilidade de A, Mística, desenvolver órgãos genitais com espermatozoides que tinham um código de DNA, ou B, Mística, ser um cara que estava perpetuamente no corpo de uma mulher, eu achava que era muito pequena.”

Foi então que ele decidiu ignorar tudo isso e criar a primeira versão do que seria o nascimento de Noturno sendo filho  de Mística com um Barão ainda sem nome (A ideia dele ser  Christian Wagner, dono de terras nos Alpes da Bavária só veio muito tempo depois com Uncanny X-Men #428). Essa história acabou servindo de base para um episódio da versão animada dos X-Men em 1995 e por isso é mais “aceita” pelos fãs não leitores.

Contudo, a verdade é que X-Men Unlimited #4 é considerada por muitos fãs como um enrosco de furos da cronologia, e não só por desonrar a ideia da origem de Noturno como Claremont pretendia, mas também por colocar uma cena de Flashback da Vampira adolescente ainda morando na casa dos pais (quando de antes se sabia que Mística e Sina a adotaram ainda criança). 

Mas os roteiristas de X-Men não se contentaram em fazer algo tão simples para o Noturno. Aproveitando a ideia de que tinhamos tanto mutantes angelicais como Warren Worginthon III como demônios azulados como Kurt Wagner, o mais que odiado roteirista Chuck Austen se aproveitou de uma época onde tudo nos gibis era possível depois da passagem de Grant Morrison nos X-Men e fez o arco de histórias chamado Draco.

Draco foi um arco de histórias complicado da fase de Uncanny X-Men no começo dos anos 2000. A história estabelecia que existia uma linhagem muito antiga de mutantes-demônios chamada Neyaphem, que existiam em contraposição aos Cheyarafim, mutantes que pareciam mais com seres angelicais. É dito que comandando os Neyaphem existia um ser chamado Azazel, que chegou a desafiar até o próprio Mefisto, mas perdeu. Depois ele banido para essa parte menor do inferno chamada de “Dimensão do Enxofre” pelos Cheyarafim. Foi estabelecido que Azazel era o unico poderoso capaz de tempos em tempos “bamfar” para fora dessa dimensão e vir até a nossa. Nessa visitas, ele sempre procurava deixar sua “semente” em mulheres.

No fim, Noturno era filho desse demônio menor chamado Azazel, que teve um caso com a Mística só pela intenção de espalhar filhos meio-demônios por aí. Nessa história, é dito que Mística era extremamente inocente, apaixonada pelo Azazel e aceitou criar o filho como se fosse do Barão. O problema veio na hora do nascimemto quando o bebê era peludo, orelhudo e tinha cor azul. E isso se conectaria depois com o que Lobdell escreveu. Draco também estabelece que Noturno tem outros irmãos mutantes filhos de Azazel assim como dá entender que o Anjo seja uma descendência de um Cheyarafim.

O roteiro de Draco é sofrível assim mesmo. E tinha um grande problema cronológico. O Doutor Estranho em ‘Inferno’ já teria descartado que Noturno fosse um híbrido mutante/demônio usando seu olho do Agamotto. Foi algo que Claremont de cara estabeleceu para evitar que isso acontecesse depois de sua saída, como acabou infelizmente acontecendo.  Com isso, Draco foi uma história muito menos aceita por leitores, mesmo o que conheceram o grupo pelos desenhos, e é mais digerida por novos fãs que não liam quadrinhos antes ou que conheceram a figura de Azazel em X-Men: Primeira Classe.

Por pior que fosse a história, o mal estava feito e parecia que Draco encerraria de vez a questão do parentesco de Noturno.  E foi assim por muitos  anos. Mas com Sina ressuscitado na atual fase Krakoa no arco Inferno, ao lado de Mística, e oficialmente as definindo como cônjuges uma do outro, a questão sobre a ascendência de Noturno pedia para ser reajustadas por muitos. Com agora um editorial muito mais aberto, surgiu novamente a possibilidade de recriar o plano original de Claremont.

Si Spurrier já vinha dando pistas de que iria “consertar” o passado complicado de Noturno numa série de cenas em seus títulos dessa nova fase.  Com ele, vimos o Noturno momentaneamente desenvolver uma “mutação secundária” ao ter seus poderes amplificados por Fabian Cortez em Way of X #5. Ele passou a ter visões do passado/futuro por alguns minutos, um poder que nunca antes ele demonstrou ter. E esse poder é, algo que sabemos bem, é um dom da Sina.

 Já em outra história, Si Spurrier também mostrou que os poderes transmorfos da Místicas eram tão poderosos que poderiam enganar máquinas de detecção de DNA e/ou Rastreadores, que ela poderia se passar até por de fato um homem (Uncanny Spider-man 4).

Com X-Men Origins: Blue da última semana, parte do enredo da Queda de X, e saindo como uma continuação da nova revista do Noturno “Uncanny Spider-Man”, que viu Noturno em um traje de Homem-Aranha tentando bancar o herói de NY. Só que em dado momento, ele se depara com sua mãe  enlouquecida por perder a esposa mais uma vez (mesmo estando na Sala Quente Branca com a maioria dos mutantes perdidos). Nessa angústia, Noturno dá a ela a “Espada da Esperança” e com isso memórias do passado são destravadas revelando a verdade sobre Noturno ser filho de Mística e Sina.

Esse é um resumo que já falamos aqui, mas que ao invés de apenas se desfazer da história anterior, acrescenta apenas mais uma camada final em tudo. Uma vez estabelecido que os poderes de Raven Darkhölme iam até a mudança do DNA, fica fácil explicar porque ela poderia passar um cromossomo ‘Y’ para gerar o Noturno no ventre da Irene ou mesmo até ter ainda uma ligação com Azazel já que usou o corpo dele como ‘forma’ para copiar ao tentar engravidar a Sina. 

Sina, por sinal, parece ser o elemento mais errático na vida de Mística. Afinal, com essa origem, vemos que ela não só manipulou sua amada para ter primeiro o caso com Azazel como também a enganou no momento em que veio com o plano de ela deixar Noturno na floresta e que seria depois encontrado e adotado por Magali Szardos. Mais tarde, Sina ainda fez com que ela e Mística fossem até o Professor Xavier para fazer com que elas esquecem a história (ou ao menos parcialmente) da verdadeira origem de Kurt Wagner. Se quiser uma versão mais completa dessa nova história, já falamos dela aqui!

Essa questão de Mística não ter um gênero definido foi algo que Chris Claremont já tinha definido e falou quando contou sobre sua escolha pelos pais de Noturno em seu fórum online ‘Cordially Chris’ anteriormente: 

“Em relação à Mística, sempre considerei que sua forma padrão era de pele azul e feminina. No entanto, sendo um metamorfo de espectro completo, o gênero para ela é uma questão de escolha, conveniência e necessidade”.

“A sua assunção do género masculino durante este período particular da sua vida relaciona-se mais com os preconceitos da época. É provável que um detetive consultor do sexo masculino seja levado um pouco mais a sério nos círculos oficiais do que uma mulher” disse ele sobre ela assumir por um tempo a figura de “Sherlock Holmes” ao se referir as edições de X-Treme X-Men de 2001 cujo primeiro arco teve um flashback de Irene e Raven. Uma edição recente de ‘Immortal X-Men’ revisitou também está ideia de que Mística era o famoso detetive imaginado por Sir Arthur Conan Doyle.

No mesmo fórum, Claremont também contou sua ideia de por que Mística deixou o bebê Noturno: “Mística o abandonou porque ficou totalmente assustada com essa criatura de pêlo índigo com apêndices “deformados” e cauda bifurcada! Nesse ponto, Mística não tinha ideia de que ele era um mutante ou um metamorfo; Ele simplesmente reagiu como muitas pessoas normais fariam em circunstâncias semelhantes. E no processo houve uma espécie de colapso nervoso, colapso mental. O que, claro, foi uma outra história que nunca será impressa. (Parece que tenho muitas delas.)”. 

No fim, o que tivemos foi de fato um retcon, mas não um mal feito dessa vez. É um resgate a uma ideia original que foi infelizmente censurada pelo editorial na época. Por duas vezes. Agora, todos os elementos anteriores estão aí, inclusive o malfadado Azazel tem seu vínculo de alguma forma já que a história sugere que Mística se baseou nele pra ter o Noturno. Além disso, a história em si amplia mais coisas pro futuro pro personagem principal. A existência do Noturno por si, sendo parte de um elaborado plano da Sina, mostra que o personagem tem potencialmente mais coisa para se contar. Talvez ele esteja fadado a algo ainda grande, que só no futuro saberemos de fato o que é.

Coveiro


Fonte: Universo Marvel 616 (marvel616.com)