Outros filmes latino-americanos foram agraciados no encerramento; no Brasil CineMundi, júri oficial escolhe “Filhas do Mangue”, projeto de Alagoas. Outras propostas venceram categorias de parceiros para fomento a coprodução e desenvolvimento.
A 19ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte anunciou, na noite de domingo, 28 de setembrol, os filmes premiados da Mostra Território e os projetos contemplados no Brasil CineMundi – 16th International Coproduction Meeting. A cerimônia de encerramento do evento aconteceu no Cine-Theatro Brasil. O prêmio de melhor filme da Mostra Território foi para “Quemadura China”, produção do Uruguai dirigida por Verónica Perrotta. Pela justificativa do júri oficial, a obra “ousa encarar de frente a fragilidade, lembrando-nos de que os corpos guardam memória e de que, mesmo na perda, pulsa a ternura”. A decisão destacou ainda “a beleza nascida do imperfeito, a ousadia estética e a entrega absoluta de seus intérpretes” e ressaltou a maneira como o filme entrelaça “o íntimo com o coletivo, o grotesco com o lírico, o teatral com o cinematográfico, num gesto de radical originalidade”.
Na categoria Melhor Presença, na qual o júri pode escolher livremente, foi escolhido o elenco de “Chicharras”, do México, dirigido por Luna Marán. A justificativa apontou que a obra retrata “atos de resistência dentro do território que percorre” e que experimenta “possibilidade de reinventar seus processos criativos e romper com as hierarquias individuais do cinema”. Foi apontada a consciência coletiva da produção: “Fazer filmes é um processo conjunto capaz de retratar a complexidade e o encanto de uma comunidade”.
O júri deu ainda um destaque à montagem de “Huaquero”, do Peru, dirigido por Juan Carlos Donoso Gómez. Foi enfatizado o caráter político e a densidade histórica do filme, que constitui “uma arqueologia de terras ainda habitadas por mistérios a serem revelados; uma síntese de oito anos que nos lembra que a verdadeira escrita do cinema está na articulação de suas imagens e sons”. A decisão destacou a capacidade do filme de “tornar visível o invisível, como na alquimia da prata, onde os halos ocultos na emulsão se revelam e se transformam em matéria perceptível”.
O Prêmio Abraccine, dado por críticos de cinema, foi para “Punku”, também do Peru, dirigido por Juan Daniel Fernández Molero e descrito como “uma refinada arquitetura do (in)consciente, entre memória, sonho, mito e realidade”. O júri ressaltou a força do feminino na condução da narrativa, que revela “um território íntimo e múltiplo, em que corpos e paisagens se transformam em matéria poética e perturbadora”. A Abraccine ainda conferiu uma menção honrosa a “Chicharras”, reconhecendo a vitalidade do filme “ao nos envolver em uma comunidade viva e autônoma, que, mesmo diante das caravelas perenes do colonialismo, afirma-se como um corpo político coletivo e insubmisso, uma verdadeira inspiração”.
BRASIL CINEMUNDI
A 16ª edição do Brasil CineMundi também anunciou os projetos premiados em suas diferentes categorias, vindos dos vários parceiros que compõem a programação do encontro e colaboram nos processos de parceria, coprodução e fomento para o cinema do futuro.
O prêmio principal do júri oficial, formado por Luana Melgaço, Jorge Cohen e Juliette Lepoutre, foi concedido ao alagoano “Filhas do Mangue”, escrito e dirigido por Stella Carneiro e produzido por Rafhael Barbosa (La Ursa Cinematográfica, Alagoas). O júri destacou que o projeto traz “uma voz jovem, promissora e profundamente singular” ancorando-se em vivências íntimas e familiares que, contadas com humor e ternura, ecoam debates mais amplos sobre preservação ambiental, assimetrias regionais e irreverência das novas gerações. “Trata-se de um cinema que “nasce nas margens de uma lagoa, em um estado ainda pouco representado, mas que, pela sua especificidade, tem o poder de dialogar com audiências maiores”.
Na categoria Work in Progress, o Prêmio O2 Pós reconheceu O Filho da Puta, a ser dirigido por Erica Maradona, Otto Guerra, Sávio Leite e Tânia Anaya, com produção de Cissa Carvalho, Elisa Rocha e Tatiana Mitre. A escolha chamou atenção pela “narrativa sólida e envolvente, conduzida com humor ácido e estética crua” e ressaltou que “mais do que uma viagem física, a obra é um percurso de identidade e afirmação”. Já o Prêmio Mistika foi para “Lusco-Fusco”, de Bel Bechara e Sandro Serpa, produzido por Rafaella Costa, pela “sensibilidade em abordar feminismo e violência contra a mulher” e por sua “coragem em demonstrar esperança mesmo nos territórios mais sombrios”.
O prêmio The End foi para “A Fabulosa Máquina do Tempo”, com direção de Eliza Capai e produzido por Mariana Genescá. O reconhecimento veio por sua “capacidade de unir potência artística e relevância social” e por oferecer “um olhar sensível sobre a infância feminina no sertão do Piauí, revelando como imaginação e ludicidade se tornam ferramentas de resistência”. Na categoria Foco Minas, o prêmio Cinecolor/CTAV/Edina Fujii/Parati Films foi de “Arrudas”, de Matheus Moura, com produção de Antonio Pedroni e roteiro de Ian Chang. A justificativa ressaltou que o projeto “nos confronta com a vulnerabilidade de nossas próprias estruturas sociais” e que transforma “a dor em poesia e o caos em uma reflexão lúcida sobre nossa fragilidade compartilhada”.
“Você? Mãe?”, direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos e produzido por Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia, foi agraciado em mais de uma premiação por júris distintos. Recebeu o DocBrasil, pelo “potencial de transformar o íntimo em universal e o pessoal em político” e pela relevância das questões sobre maternidade e capacitismo, e o Prêmio Conecta, pela “coragem em desafiar convenções visuais com uma estética que parte da perspectiva de uma pessoa cega e de uma cineasta com deficiência motora”. Além disso, “Você? Mãe?” conquistou o Prêmio DocSP pela “continuidade de uma carreira criativa que amplia perspectivas de viver e experimentar o mundo”.
Já o DocSP Study Center foi para “Tomba Homem”, de Gibi Cardoso, produzido por Lucas Uchôa e Victória Morais, pela importância de resgatar “a história de vida de referência em BH no movimento LGBTQIA+ e na resistência à ditadura”. O prêmio FIDBA #Link contemplou “Febre Tropical”, de Andy Malafaia e Carolina Hofs, pela advertência histórica “em um momento em que discursos autoritários ressurgem”.
O Nuevas Miradas selecionou “Toshi Voltou do Japão”, direção de Marcos Yoshi e produzido por Rica Saito, por abrir “um espaço de reflexão sobre a experiência silenciada de uma geração de homens imigrantes atravessados pelo sofrimento mental”. Já o RIDM foi atribuído a “Enquanto te Escrevo a Paisagem Muda”, de Anna Lu Machado e Artur Monteiro, produção de Thaís Vidal, por “reinventar a road movie como cartografia afetiva e ecológica” e por entrelaçar “memória e amizade em uma narrativa poética que denuncia os impactos ambientais do nosso tempo”.
O Prêmio Burning foi para “Soberbo”, de Camila Matos e Juliana Antunes, pela ousadia de entrelaçar “ficção, fantasia e experimentalismo a partir de um mito urbano de Belo Horizonte”. Já o WCF – World Cinema Fund premiou “Sapatour”, direção de Gab Laurenzato e produzido por Well Darwin, por ser “uma celebração rebelde e vibrante, com enorme potencial de ressonância global”.
O MAFF/Projeto Paradiso foi para “Diamante, o Bailarina”, direção de Pedro Jorge e produzido por Heverton Lima, pela “capacidade de promover a inclusão social ao refletir realidades muitas vezes invisibilizadas” e por inspirar “uma cultura de respeito e aceitação em todas as formas de ser e viver”. Já o coletivo Filmes de Plástico, que concedeu prêmios de incentivo, dividiu sua contribuição em duas distinções: um especial para “Brilhante”, de Carol Silva e Karen Suzane, pela originalidade e relevância LGBTQIAPN+, e o Prêmio Principal para “Omágua Kambeba”, de Adanilo e produzido por Ítalo Bruce, por ser “um projeto ambicioso e ousado, capaz de renovar a cinematografia brasileira”.
LISTA DE PREMIADOS
Mostra Território
Longa-metragem: Quemadura China, Uruguai, direção de Verónica Perrotta
Melhor Presença: Chicharras, México, direção de Luna Marán
Destaque do Júri (Montagem): Huaquero, Peru, direção de Juan Carlos Donoso Gómez
Prêmio Abraccine: Punku, Peru, direção de Juan Daniel Fernández Molero
Brasil CineMundi
Júri Oficial
Filhas do Mangue (AL) — direção de Stella Carneiro, produção de Rafhael Barbosa
WIP – O2 Pós
O Filho da Puta (MG / RS) — direção de Erica Maradona, Otto Guerra, Sávio Leite e Tânia Anaya; produção de Cissa Carvalho, Elisa Rocha e Tatiana Mitre
WIP – Mistika
Lusco-Fusco (SP) — direção de Bel Bechara e Sandro Serpa; produção de Rafaella Costa
WIP – The End
A Fabulosa Máquina do Tempo (RJ) — direção de Eliza Capai; produção de Mariana Genescá
Foco Minas
Arrudas (MG) — direção de Matheus Moura; produção de Antonio Pedroni e Matheus Moura
DocBrasil
Você? Mãe? (RJ) — direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos; produção de Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia
Conecta
Você? Mãe? (RJ) — direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos; produção de Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia
DocSP
Você? Mãe? (RJ) — direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos; produção de Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia
DocSP Study Center
Tomba Homem (MG) — direção de Gibi Cardoso; produção de Lucas Uchôa e Victória Morais
FIDBA #Link
Febre Tropical (SP) — direção de Andy Malafaia e Carolina Höfs; produção de Leonardo Mecchi
Nuevas Miradas
Toshi Voltou do Japão (SP) — direção de Marcos Yoshi; produção de Rica Saito
RIDM
Enquanto te Escrevo a Paisagem Muda (PE) — direção de Anna Lu Machado e Artur Monteiro; produção de Thaís Vidal
Burning
Soberbo (MG) — direção de Camila Matos e Juliana Antunes; produção de Juliana Antunes
MECAS
Omágua Kambeba (AM) — direção de Adanilo; produção de Ítalo Bruce
WCF – World Cinema Fund
Sapatour (SP) — direção de Gab Lourenzato; produção de Well Darwin
MAFF / Projeto Paradiso
Diamante, o Bailarina (SP) — direção de Pedro Jorge; produção de Heverton Lima
Filmes de Plástico – Prêmio Especial
Brilhante (MG) — direção de Carol Silva e Karen Suzane; produção de Carol Silva
Filmes de Plástico – Prêmio Principal
Omágua Kambeba (AM) — direção de Adanilo; produção de Ítalo Bruce
A 19ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte e o 16º Brasil CineMundi integram o Cinema sem Fronteiras 2025 – programa internacional de audiovisual idealizado pela Universo Produção e que reúne também a Mostra de Cinema de Tiradentes (centrada na produção contemporânea, em janeiro) e a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto (que difunde o audiovisual como patrimônio e ferramenta de educação, em junho).
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