Crítica – Wicked

A revisitação de universos clássicos e a chance de criar novas perspectivas de linguagem.

Há sempre uma grande expectativa quando se trata de adaptações cinematográficas de universos já existentes, sejam em peças de teatro, livros ou mesmo filmes anteriores. Há que se falar em um grande alvoroço, pois, quando um filme consegue trazer os universos de todas essas mídias juntas, como é o caso de “Wicked”, novo filme de Jon M. Chu e da Universal Pictures.

Aos amantes de “O Mágico de Oz”, famoso filme musical e de fantasia lançado em 1939, temos em “Wicked” um retorno ao mesmo universo, dessa vez para retratar a história da origem de Alphaba, a Bruxa Má do Oeste (no novo filme interpretada por Cynthia Erivo) e também de Glinda, a Bruxa Boa do Sul (interpretada por Ariana Grande). Trata-se de uma adaptação de uma adaptação. É que “Wicked”, antes de ser filme, é um dos musicais mais conhecidos da Broadway, tendo já sido adaptado do livro homônimo, escrito em 1995 por Gregory Maguire.

Wicked – Universal Pictures (2024)

Assim como na peça, “Wicked” é um filme musical, e atende ao apelo dos fãs por uma fantasia repleta da magia de Oz. Os cenários são de um esplendor que só os filmes de fantasia são capazes de proporcionar, assim como os figurinos e toda a caracterização espacial e de personagens. Há uma expansão do universo de Oz, trazendo ao público uma história ao mesmo tempo dramática e bastante alegre. Aqui, o Cinema consegue ampliar as possibilidades visuais da magia e dar ao espectador uma experiência de brilhar os olhos.

O carisma dos personagens é também um ponto a favor da narrativa. E o destaque de atuação vai para Ariana Grande, conseguindo entregar profundidade na medida certa, e humor de forma extremamente pertinente ao caricato de Glinda. É um filme que traz toda a nostalgia do clássico de 1939, atrelada ao glamour tão conhecido como característica do que a Broadway se propõe.

Alguns pontos, contudo, precisam ser analisados com um pouco mais de cuidado.

Wicked – Universal Pictures (2024)

Se a linguagem musical funciona de maneira muito adequada aos palcos, nem sempre isso acontece no Cinema. Há, por questões de mídia, diferenças de abordagem que, se por um lado cabem perfeitamente nos palcos, no cinema por vezes se torna um pouco mais complexo o acerto. Há, no Teatro, um pacto entre o espectador e o espetáculo, em que vermos algo fora dos parâmetros da realidade se torna passível de apreciação de forma muito mais simples do que no Cinema que, mesmo em filmes de gêneros fantásticos, ainda possuem um vínculo estético com um certo tipo de realismo e, por esse motivo, a linguagem musical pode, dadas as devidas proporções, atrapalhar a imersão.

Isso acontece em alguns momentos de “Wicked”. Situações-chave em que a inserção de apresentações musicais nos tiram do propósito dramático, fazendo com que a cena perca força, quase como um anti-clímax. Se estamos falando de adaptação, talvez devêssemos, também, adaptar o modo como o elemento musical se insere no filme, para que seja um ponto a favor da narrativa, e não contra ela. Filmes em que essa adaptação se faz de forma mais adequada à linguagem cinematográfica são “Sweeney Todd” e “Aladdin”, a título de exemplificação.

Wicked – Universal Pictures (2024)

Nada disso tira, contudo, a graça e força de “Wicked”. É um filme para toda a família, que acerta em ser, ao mesmo tempo, divertido e profundo. Um entretenimento que pode levar o público mais jovem a se interessar, inclusive, pelos clássicos do Cinema de outrora, além de levar à curiosidade por outras mídias artísticas.

 

Crítica por Bianca Rolff.

 

Wicked
Estados Unidos, 2024, 160 min.
Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Winnie Holzman, Dana Fox
Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande-Butera, Jonathan Bailey
Produção: Marc Platt, David Stone
Direção de Fotografia: Alice Brooks
Música: Stephen Schwartz, John Powell
Classificação: 10 anos
Distribuição: Universal Pictures

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