“Sol de Inverno” nos alerta para a efemeridade das relações humanas em meio à ciclos que, assim como o gelo, escorrem pelas mãos.
“Sol de Inverno” é um filme agridoce que chega aos cinemas dia 16 de janeiro, sem causar muito alarde. A obra, que foi indicada em dois prêmios no Festival de Cannes, acompanha Takuya, um garoto de 9 anos que pratica Hóquei de Gelo na escola, apesar de não levar muito jeito no esporte. Na pista de patinação de gelo, ele se encanta com a jovem Sakura, estrela em ascensão da patinação artística. O técnico da jovem, o ex-campeão no esporte Arakawa, vê potencial no garoto e o convida para formar uma dupla com ela para uma próxima competição. À medida que o inverno persiste, os sentimentos aumentam e as os três personagens formam um vínculo profundo e simbólico.
O filme apresenta uma narrativa intimista e contemplativa, onde a beleza do inverno é colocada sob os holofotes para ambientar esse agridoce ciclo na vida de três pessoas. As nuances emocionais dos personagens são exploradas com uma sensibilidade gentil, trazendo um diálogo com temas como a efemeridade das relações humanas, os ciclos de perda e renovação, e a busca por significado em meio ao caos da vida cotidiana.

Arakawa, como um ex-campeão de patinação artística, encontra um novo propósito ao treinar um jovem apaixonado pelo esporte. Extremamente dedicado e paciente, ele guia Takuya nessa nova jornada, revivendo, através dele, a própria paixão pelo esporte que sentiu na juventude. Essa conexão acaba aproximando os três personagens entre si e dando ao treinador um novo sentido em sua vida.
O filme retrata o treinamento e o amadurecimento dos personagens de forma sensível e poética, sem acelerar o ritmo e desenvolvendo a obra muito bem em ao longo de sua duração. Essa abordagem cuidadosa e lenta permite que as transformações dos personagens sejam acompanhadas com naturalidade, valorizando sem pressa a evolução de suas jornadas, o que torna a narrativa emocionalmente envolvente e cria um vínculo empático entre os personagens para com o espectador.

ALERTA DE SPOILER
O desfecho dessa história é, no mínimo, revoltante. Somos observadores de uma jornada interrompida por um escândalo. O preconceito acerca de uma particularidade do treinador rompe abruptamente a conexão construída entre os personagens e suas jornadas, e é extremamente triste e doloroso assistir a um caminho promissor ser interrompido por algo que poderia ter sido evitado.
Assistindo ao filme, investimos emocionalmente no progresso dos três, apenas para vê-lo desmoronar em um ato de crueldade sem motivo aparente. Ao final, a história nos deixa uma reflexão sobre como o preconceito, o julgamento e a exposição impensada podem destruir sonhos de forma completamente desnecessária.

“Sol de Inverno” começa como um abraço caloroso, mas aos poucos se transforma em um sopro gelado, nos lembrando com delicadeza que a vida é tecida por ciclos. Por mais doloroso que seja, o fim de uma etapa é inevitável para que outra possa iniciar.
Crítica por Pedro Gomes.

Sol de Inverno | ぼくのお日さま
Japão, 2024, 90 min.
Direção: Hiroshi Okuyama
Roteiro: Hiroshi Okuyama
Elenco: Keitatsu Koshiyama, Nakanishi Kiara, Sosuke Ikematsu
Produção: Toshikazu Nishigaya, Masa Sawada, Yuki Nishimiya
Direção de Fotografia: Hiroshi Okuyama
Música: Yuho Sano, Ryosei Sato
Classificação: 12 anos
Distribuição: Michiko Filmes









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