O chamado atendido de um universo em expansão.
Ouvir a trilha musical de Howard Shore sempre é significativo para os apreciadores da obra de J.R.R. Tolkien. Acostumados às trilogias “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”, bem como o tema principal da série “Os Anéis de Poder”, tornar a ouvir sua composição através da melodia de “Edoras”, música de abertura de “O Senhor dos Anéis – A Guerra dos Rohirrim”, é retornar profundamente a este universo e criar grandes expectativas para o que está por vir em suas 2h14 de filme.
A animação dirigida por Kenji Kamiyama (“Blade Runner: Black Lotus”) é a mais nova produção dos estúdios Warner, em uma inédita abordagem do fantástico universo de Tolkien. Nela, somos levados por uma Terra Média anterior aos acontecimentos de Frodo e o Um Anel, vivenciando a história da Guerra dos Lendários Guerreiros de Rohan, chamados de Rohirrim (leia-se Rorrírim) e a origem de Helm’s Deep, conhecido cenário da batalha em “O Senhor dos Anéis – As Duas Torres”. O ineditismo se dá não apenas pelo tem (Helm Mão-de-Martelo, Rei de Rohan à época da animação, é brevemente mencionado nos apêndices de O Senhor dos Anéis) mas pelo modo como a história é contada: dessa vez, estamos diante de uma animação em estilo japonês característico, isto é, uma Anime em toda sua essência.

Esta não é a primeira abordagem do universo de Tolkien em animação, é preciso dizer. Nos anos 1970, houve uma tentativa de se criar a saga principal de forma animada, mas sem que a ideia fosse levada além de uma feitura em rotoscopia por Ralph Bakshi. A Guerra dos Rohirrim é, contudo, a primeira animação com êxito não apenas em estilo, mas em alta qualidade.
É notável o primor dos detalhes desde os primeiros frames das Montanhas Brancas. Os cenários repletos de cores e profundidade, além de referências diretas e indiretas a contextos que os aficcionados por Tolkien poderão apreciar de imediato. Além disso, os personagens são carismáticos e com camadas, o que para os críticos de “Os Anéis de Poder” já se torna por si só uma grande conquista.
O estilo épico das histórias de Tolkien se adapta de maneira fluida e carinhosa à animação. Através dessa escolha, é possível enveredar pelas batalhas em toda a sua magistralidade, com escolhas estéticas apuradas e uma direção precisa por parte de Kamiyama.

Além disso, outro ponto importante a respeito de “A Guerra dos Rohirrim” (e que tem grandes chances de tornar a produção uma das mais acertadas e devidamente atualizadas a respeito do universo da Terra Média) é o protagonismo feminino. Já há muito tempo a ausência de personagens femininas efetivamente importantes, com profundidade e com relações entre si é uma crítica das mais contundentes sobre a obra de Tolkien. Nem mesmo a série “Os Anéis de Poder” conseguiu suprir essa falta com o protagonismo de Galadriel, muitas vezes fraco e esvaziado de sentido em suas atitudes. Não é o que se vê no Anime. Héra, a filha mais nova de Helm e personagem principal, é posta como deve ser: com atitude, propósito e sem perder a essência da história que se quer mostrar: A Grandeza dos que lutam por Rohan. Não é atoa, também, que a animação é narrada por Éowyn – com o retorno de Miranda Otto ao papel – a grande guerreira de Rohan em “O Senhor dos Anéis” e que nos justifica (numa sacada inteligente de roteiro), o porquê do apagamento feminino nas já tão conhecidas narrativas.
Destaque também para o elenco de voz original: Brian Cox como Helm Mão de-Martelo trás força e também emoção, acompanhado de todos os demais atores escolhidos com maestria. O trabalho de criação vocal aviva com muita precisão as demais artes empenhadas na produção do Anime.

“O Senhor dos Anéis – A Guerra dos Rohirrim” funciona como um deleite aos que já são aprofundados na obra de Tolkien, mas também aos que agora chegam. É uma história que funciona por si e que dá as mãos ao que já existe. E para os que apreciam a nostalgia, há que se falar: ela está lá. E nos faz querer que Rohan atenda sempre aos chamados dos seus.
Crítica por Bianca Rolff.

O Senhor Dos Anéis: A Guerra Dos Rohirrim | The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim
Japão, Estados Unidos, Nova Zelândia, 2024, 134 min.
Direção: Kenji Kamiyama
Roteiro: Arty Papageorgiou, Phoebe Gittins, Jeffrey Addiss, Will Matthews
Elenco: Brian Cox, Gaia Wise, Luke Pasqualino
Produção: Joseph Chou, Jason DeMarco, Philippa Boyens
Efeitos Especiais: Richard Taylor
Música: Steve Gallagher
Classificação: 14 anos
Distribuição: Warner Bros. Pictures









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