Crítica – Não Fale o Mal (Speak No Evil) [2024]

De forma menos impactante, James Watkins entrega ao público o que ele merece depois de ter sido traumatizado pela obra de dois anos atrás.

Não Fale o Mal é um remake do filme dinamarquês homônimo lançado em 2022. Na trama, uma família americana é convidada a passar o fim de semana na idílica cassa de campo de uma charmosa família britânica, com quem fizeram amizade nas férias. O que começa como um feriado dos sonhos logo se transforma em um assustador e paralisante pesadelo psicológico.

Aqui temos algumas diferenças propositais no roteiro de James Watkins, principalmente do clímax ao desfecho. O fim da obra original causou bastante revolta no público e, então, o diretor e roteirista quis inovar e trazer uma visão diferente para a mesma história. Essa escolha corta algumas das príncipais críticas exploradas anteriormente, como a ilusão da cordialidade e a consequência da passividade perante o  mal. Em nossa crítica de “Speak No Evil”, postada à dois anos atrás, ressaltamos a importância das metáforas presentes e também sua relação com o título. Em vez de um estudo sutil do medo e da gentileza excessiva, o remake foca mais em sustos e reviravoltas que, embora eficazes, sacrificam a complexidade emocional e o horror psicológico indigesto.

Speak No Evil – Universal Pictures (2024)

“Não Fale o Mal” funciona bem como um thriller de entretenimento mais acessível, com momentos de tensão previsíveis, o que o tornaria uma escolha perfeita para uma sessão na Tela Quente. Embora seja eficaz em manter o espectador envolvido, foi uma opção do diretor ter uma abordagem mais direta e menos introspectiva, deixando de lado as camadas de desconforto social e crítica sobre a passividade humana que foram tão poderosas na versão original.

Em quesito de fotografia, trilha sonora, e outros aspectos técnicos, o longa não consegue capturar a mesma essência de Christian Tafdrup, carecendo da atmosfera sufocante e do impacto visceral que tornaram o original tão perturbador e memorável. Embora a trama siga os mesmos eventos, a construção de suspense é superficial e apressada, diluindo a tensão psicológica que foi o um dos pontos mais importantes do longa de 2022.

Speak no Evil – Universal Pictures (2024)

As atuações estão simplesmente excelentes. James McAvoy entrega uma performance carismática e perturbadora, explorando a dualidade entre o charme e a maldade com maestria. Sua habilidade de alternar entre uma personalidade amigável e ameaçadora com sutileza já foi muito bem explorada em “Fragmentado”, e aqui não é diferente. Isso torna seu personagem ainda mais inquietante, deixando o público sempre em dúvida sobre suas verdadeiras intenções. McAvoy segue não decepcionando em todos os papéis que escolhe para interpretar. O ator, que consegue impressionar tanto no drama quanto no horror, entrega um vilão extremamente assustador e agressivo.

Temos elementos marcantes de produções de Jason Blum e sua produtora BlumHouse. Produções icônicas como “Corra!”, “A Entidade”, e “O Homem Invisível” demonstram sua habilidade em entregar um terror moderno de qualidade. O estúdio se tornou uma referência no cinema de terror contemporâneo e popular, e embora algumas de suas produções desagradem a crítica, grande parte é aclamada pelo público e por fãs do gênero.

Speak No Evil – Universal Pictures (2024)

O resultado de tudo isso é um filme competente, mas menos memorável, perfeito para quem busca uma experiência de suspense sem se aprofundar nos dilemas morais e em uma tensão insuportável. O novo desfecho, embora também seja brutal, entrega o “final alternativo” que o público merecia.

 

Crítica por Pedro Gomes.

 

Não Fale o Mal | Speak No Evil
Estados Unidos, 2024, 110 min.
Direção: James Watkins
Roteiro: James Watkins
Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy
Produção: Jon Romano, Jason Blum
Direção de Fotografia: Tim Maurice-Jones
Música: Danny Bensi, Saunder Jurriaans
Classificação: 18 anos
Distribuição: Universal Pictures

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