Crítica – Mickey 17

O retorno ao realismo fantástico de Bong Joon-ho e às críticas contundentes aos aspectos sociais da humanidade.

Quando você pensa em sua existência nesse mundo, o que vem à sua mente? Você se considera relevante o bastante? Existe algo que tornaria a sua vida mais proveitosa, com mais importância, especialmente algo que você pudesse fazer para tornar a evolução da humanidade mais significativa? Se sua resposta a estas perguntas forem sim, ainda assim você estaria disposto a fazer a diferença?

Essas poderiam ser perguntas feitas em tom de altruísmo e com o intuito de auto melhoria. Para Mickey Barnes (Robert Pattinson), protagonista de Mickey 17, nova ficção-científica de Bong Joon-ho (Parasita), são apenas perguntas. Sua vida não vale de nada, e ele não tem nada de bom a oferecer. Entretanto, quando surge a oportunidade de viajar a bordo da nave de colonização de um novo planeta chamado Nilfheim, Mickey percebe que ser alguém que nada tem a ganhar pode ser justamente o que o torna importante.

Mickey 17 – Warner Bros. Pictures (2025)

Decidindo se voluntariar como um “Descartável”, ele se torna parte de um programa que faz dele uma cobaia humana em prol do “desenvolvimento e aprimoramento” da humanidade. A cada vez que morre, Mickey é reimpresso – literalmente – continuando a sua existência em um novo corpo, mas com a maioria de suas memórias em back-up. Cada passo seu é monitorado e seu corpo e mente servem aos mais diversos experimentos científicos. 17 impressões foram feitas até o momento. Quando morrer, uma nova entrará em ação, substituindo a anterior. Ou pelo menos é o que se espera.

Mickey 17 – Warner Bros. Pictures (2025)

Baseado no livro Mickey7, de Edward Ashton, o filme traz o humor e a estranheza característicos dos universos criados por Bong Joon-ho. Com personagens calculadamente estranhos e contextos que beiram o absurdo, temos um realismo que nos permite pensar até onde vai a nossa sede e ganância por novas conquistas e até onde a justificativa de se fazer algo “pelo bem maior” é aceitável. Além disso, o filme também nos coloca diante do aspecto da “colonização” de novos lugares e o quão problemática é a visão do colonizador em cima dos supostos colonizados. O lucro acima de tudo é posto à prova, assim como a própria existência da humanidade enquanto ser pensante e supostamente superior aos demais.

Em Mickey 17, imergimos em uma ficção científica cheia de ação, bons diálogos e reflexões, bem como grandes efeitos especiais. As horas de filme são leves e bem aproveitadas. Com um elenco fortíssimo (além de Pattinson, temos Mark Ruffalo, Toni Collette e Naomi Ackie) e cenários pensados para nos causar ao mesmo tempo reconhecimento e estranheza. O filme nos ganha pela narrativa com evolução crescente.

Mickey 17 – Warner Bros. Pictures (2025)

Os fãs do realismos fantástico de Wes Anderson e de Tim Burton encontrarão semelhanças bem atraentes neste filme. Tem-se um filme de entretenimento que não deixa brechas para a não-reflexão. Até que ponto estamos, de fato, caminhando rumo à evolução?

 

Crítica por Bianca Rolff.

 

Mickey 17
Reino Unido, Estados Unidos, 2025, 137 min.
Direção: Bong Joon Ho
Roteiro: Bong Joon Ho
Elenco: Robert Pattinson, Naomi Ackie, Steven Yeun
Produção: Dooho Choi, Bong Joon Ho, Jeremy Kleiner
Direção de Fotografia: Darius Khondji
Música: Jung Jae-il
Classificação: 16 anos
Distribuição: Warner Bros. Pictures

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