Quando amar é resistir: o cinema de Anna Cazenave Cambet como ato de coragem.
Dirigido por Anna Cazenave Cambet e baseado no livro de Constance Debré, Love Me Tender é estrelado por Vicky Krieps como Clémence. O filme acompanha sua vida depois que ela conta ao ex-marido que agora se relaciona com mulheres — uma revelação que o leva a buscar a guarda exclusiva do filho do casal.
A história é contada de uma perspectiva raramente vista no cinema: a luta de uma mulher pela liberdade sobre seu corpo, sua sexualidade e sua identidade como mãe.
Com um acordo de guarda já estabelecido, Clémence começa a perceber, pouco a pouco, que Laurent está afastando o filho dela — manipulando o garoto para que ele passe a sentir ressentimento pela mãe. Após meses sendo deixada de lado, ela descobre que Laurent entrou na justiça e conseguiu a guarda total da criança.

A atuação de Vicky Krieps faz você sentir cada dia e cada minuto que Clémence é obrigada a viver longe do filho — e como ela tenta continuar a vida enquanto luta para recuperar o direito de ser mãe, independentemente de suas escolhas pessoais. Antoine Reinartz, no papel de Laurent, entrega uma performance tão convincente que transmite ao espectador uma raiva extrema a cada cena. Seu personagem representa com perfeição o quanto a manipulação parental pode ferir e danificar a mente de uma criança, e o peso que esses traumas carregam por toda a vida, resultado do egoísmo e da autopiedade dos adultos.
O filme traz uma crítica afiada ao sistema legal por trás das disputas de guarda. É impossível não se sentir revoltado e impotente diante do processo cansativo e injusto que Clémence enfrenta para provar que é capaz de ser mãe — enquanto vê seu filho sendo emocionalmente destruído por um pai movido pelo ego e pelo desejo de puni-la por simplesmente ser quem é.

No fundo, Love Me Tender é sobre resiliência — sobre a força de uma mulher que não entende por que está sendo punida, mas que decide colocar seus desejos e sonhos de lado para poder estar com o filho que gerou e tanto ama. É doloroso ver como, mesmo tentando viver normalmente, a vida e a esperança vão morrendo aos poucos em seu olhar ao longo do filme.
Para os amantes do cinema de arte, esse filme é uma joia em potencial — intenso, cru e, às vezes, desconfortável, mas profundamente recompensador para quem se deixa levar. É uma obra para quem busca mais do que entretenimento superficial, para quem suporta temas pesados e aprecia honestidade emocional. Cinéfilos interessados em cinema francês, narrativas queer e histórias feministas vão encontrar muito o que admirar aqui.

Definitivamente, não é um filme leve. O tom emocional é intenso, e alguns podem achá-lo exaustivo — mas Love Me Tender é o tipo de obra que permanece com você muito tempo depois dos créditos finais. Não é sobre espetáculo, mas sobre a luta interior, a pressão institucional e o verdadeiro significado de ser livre. Não é um filme fácil, mas certamente é um filme importante.
Crítica por Lorrayne Gabrielle.
Filme assistido no 27ª Festival do Rio – Rio de Janeiro Int’l Film Festival (2025)
Me Ame com Ternura | Love Me Tender
França, 2025, 134min.
Direção: Anna Cazenave Cambet
Roteiro: Anna Cazenave Cambet
Elenco: Vicky Krieps, Antoine Reinartz, Monia Chokri
Produção: Raphaëlle Delauche, Nicolas Sanfaute, Bernard Michaux
Direção de Fotografia: Kristy Baboul
Música: Maxence Dussère
Classificação: Não Definida
Distribuição: Imovision







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