Crítica – Inexplicável

A fé reside na esperança da existência de um futuro melhor.

A Ciência e a Religião são temas que permeiam as nossas vidas e que, inúmeras vezes, são colocadas em lados opostos. É como se acreditar em um eliminasse a crença no outro, ou como se fosse paradoxal imaginar que possam coexistir. Diversas são as narrativas que nos põem frente a esse aparente dilema e que fazem com que pensemos na importância que as duas temáticas apresentam em nossas vidas. Se com a evolução cada vez mais evidente da ciência não conseguimos viver sem a sua influência direta em nosso cotidiano, também temos um papel muito forte das religiões em nosso entorno, presentes em especial em momentos difíceis e de dor. A discussão se torna ainda mais interessante quando pensamos em “milagres”.

Inexplicável – Cinecolor (2024)

Por definição, “milagre” é um ato ou um acontecimento fora do comum, em que não há uma explicação lógica ou comprovada pelas leis naturais para a sua existência. Quando se trata da saúde de alguém, somos colocados frente a alguns “milagres”, quando alguém em um estado extremamente grave consegue se recuperar e não há uma explicação exata do que tenha levado a este resultado. O filme “Inexplicável”, de Fabrício Bittar, fala exatamente disso. Baseado em uma história real, conta o caso de Gabriel, garoto de 8 anos que sofre de um tumor cerebral e que tem a sua situação agravada ao contrair meningite bacteriana. Como o próprio nome do filme já sugere, o que acontece com ele é algo que não se consegue explicar. Casos como o de Gabriel se encaixam na definição de “milagre”. Agora, trata-se de um milagre divino ou científico?

O filme relata o caso de Gabriel (Miguel Venerabile) de maneira muito profunda e com um cuidado muito grande com a abordagem. Se por um lado, temos uma mãe (Letícia Spiller) que, por medo de não ter forças para lutar pelo filho, acredita até o último instante em sua recuperação e se apóia em uma fé quase inabalável, temos um pai (Eriberto Leão) que não consegue crer em um Deus que permita que seu filho passe por tamanho sofrimento, se apegando às alegações médicas como forma de lidar com a dor. Junto a isso, vemos uma equipe médica cuja dedicação ao caso do menino faz com que as medidas tomadas sejam por vezes desprovidas de comprovações de sucesso, mas que, mesmo sem a base de casos positivos, é o que permite dar esperança aos envolvidos, em especial a Gabriel (e porque não dizer a si mesmos?).

Inexplicável – Cinecolor (2024)

Temos aqui um filme cujo final já é esperado desde o título. Mas não se trata de saber o que acontece, mas de como o caminho até o resultado foi percorrido. O caso de Gabriel é inexplicável, milagroso, o que soa redundante. E é nesse milagre que reside a força da história. Independentemente de acreditar se tratar de um milagre de origem divina ou científica, há o fato à nossa frente. Há as inúmeras maneiras de se lidar com uma situação aparentemente sem solução e que, no final, se mostra inacreditável. É um filme que nos faz pensar que ter fé é algo para além de religiosidade, mas vinculado à esperança de futuro. É entender, como colocado em um dado momento da história, que a descrença é tão louca quanto a crença, e que, portanto, faz mais sentido lutar do que desistir.

Num mundo tão cheio de desilusões e reflexos de comportamentos destrutivos causados pela própria humanidade, vivenciar milagres é necessário para que possamos continuar crendo em nós mesmos.

 

Crítica por Bianca Rolff.

 

Inexplicável
Brasil, 2024, 146 min.
Direção: Fabrício Bittar
Roteiro: Fabrício Bittar, Andrea Yagui
Elenco: Letícia Spiller, Eriberto Leão, Miguel Venerabile
Produção: Fabrício Bittar
Direção de Fotografia: Pedro Pipano
Classificação: 12 anos
Distribuição: Cinecolor

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