Novas perspectivas sob um clássico, dando-lhe novo fôlego e frescor.
O cinema usa da adaptação literária como uma de suas fontes mais primorosas. Pequenas e grandes obras da literatura mundial já se transformaram em filmes, séries e sagas, dando perspectivas imagéticas às palavras de seus escritores. Um dos romances mais adaptados ao longo da história do cinema é Drácula, escrito por Bram Stoker em 1897, e que definiu o imaginário popular dos vampiros e todo o universo que deles se cria.
Diversas são as adaptações deste mesmo livro, indo do clássico Drácula de 1931 – com Bela Lugosi interpretando o protagonista – ao cult Drácula de Bram Stoker de 1991 – dirigido por Francis Ford Copolla e estrelado por Gary Oldman –. Além desses, temos as versões de Nosferatu (1922 e 2024), além de inúmeros outros sob a temática principal e tantos mais baseados em personagens secundários e tendo como plano de fundo a ideia central da história. Tendo em vista a quantidade de adaptações da mesma, é de se pensar que tornar a abordá-la no cinema seja algo, no mínimo corajoso. Buscar novas facetas de um clássico da literatura gótica, tão entranhado no imaginário popular, se torna uma tarefa desafiadora.

Luc Besson tomou para si essa missão em Drácula – Uma História de Amor Eterno. Mesclando aspectos essenciais do romance de Bram Stoker e novas formas de abordá lo, o filme se mostra bastante agradável e, considerando-se o tema recorrente, até mesmo inovador. É interessante, pois, fazer um comparativo entre a obra nova e as já existentes.
O aspecto que mais soa interessante nessa nova versão é criar uma história pregressa para Vlad (Caleb Landry Jones), o Príncipe protagonista que vem a se tornar o Conde Drácula. Aqui, ele é um grande guerreiro, que ao entrar em guerra em nome de seu Deus, vê-se devastado pela perda de sua amada Elisabeta (Zoë Bleu). Entendendo que a culpa por sua morte é justamente de Deus, por não tê-la protegido, Vlad O amaldiçoa, sendo, em retorno, fadado a não morrer e a conviver ininterruptamente com o sofrimento da perda. Essa não é, contudo, a primeira vez que vemos Vlad como um guerreiro.

Em Drácula – A História Nunca Contada (2014), Luc Evans interpreta Vlad Tepes, um príncipe da Transilvânia que se vê obrigado a guerrear contra os turcos e a fazer um pacto com um ser sombrio em troca da vitória. Representar o protagonista em ambos os filmes como grandes guerreiros se dá justamente pela inspiração de Bram Stoker para o mesmo em Vlad III, príncipe romeno do século XV, conhecido como O Empalador. Vlad tinha esta alcunha por ser implacável e cruel contra seus inimigos, usando-se da técnica de empalação, isto é, a inserção de uma estaca no corpo da pessoa torturada. É também dele que vem o nome Drácula, uma vez que seu sobrenome era Dracul (Dragão/Diabo) e seu filho herdou o título de Dracula, significando “filho do Dragão/Diabo)”. Entretanto, a diferença deste filme para o de Besson encontra-se no enfoque e motivações do guerreiro. Em Uma História de Amor Eterno, criamos um vínculo pregresso entre Drácula e sua amada Elisabeta, vínculo este que se torna essencial para que haja a maldição e a própria criação dos seres vampíricos. É por conta da ausência desse amor que ele se fada a viver pela eternidade e a iniciar uma busca pela reencarnação de sua amada.
Aqui, temos um ponto que se assemelha às adaptações mais conhecidas de Drácula, como o filme de Copolla e os Nosferatu, em que existe um vínculo de outras vidas entre Drácula e a reencarnação de Elisabeta, Mina Murray. Entretanto, mais uma vez, o filme de Besson consegue amarrar de maneira mais interessante a fixação de Drácula com Mina, o que torna a sua busca mais aceitável aos olhos dos espectadores. Conseguimos entender a sua dor, de forma que ele se torna mais compreensível e, via de consequência, mais humano.

As escolhas estéticas e de tom do filme também contribuem positivamente para esta nova versão. Trazendo elementos constantes nas histórias de Drácula, como a sensualidade dos personagens, o sangue como um elemento de desejo e a presença de mortes cruéis e à mostra, o filme também aposta numa espécie de comicidade vitoriana, entendida como um humor que beira ao delírio, com cenas que mesclam realidade e devaneios, criando situações que ilustram muito o aspecto psicológico dos personagens, imersos em um mundo em que o obscuro e incompreensível está sempre à espreita. Sem dar spoilers sobre o final, é possível concluir dizendo que o filme consegue abordar e encerrar a saga dos personagens de maneira ao mesmo tempo fiel e distinta do romance literário. Atrelar a história original à existência pregressa desse amor imortal entre Drácula e Elisabeta é a chave para que se consiga inovar em meio ao já postulado. E fazer com que se queira – de novo – assistir a mais uma história de vampiros.
Crítica por Bianca Rolff.
Drácula: Uma História de Amor Eterno | Dracula
França, 2025, 129 min.
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Caleb Landry Jones, Christoph Waltz, Zoë Bleu Sidel
Produção: Luc Besson, Virginie Besson-Silla
Direção de Fotografia: Colin Wandersman
Música: Danny Elfman
Classificação: 16 anos
Distribuição: Paris Filmes









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