Coutures – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

Crítica | Coutures [27ª Festival do Rio]

Angelina Jolie revela a dor, a beleza e a fragilidade escondidas sob o tecido da moda.

Dirigido por Alice Winocour e estrelado por Angelina Jolie como Maxine Walker, Coutures nos leva ao mundo da moda em Paris durante a Semana de Moda. É uma coprodução França–EUA, parcialmente falada em francês, com temas que giram em torno da mortalidade, identidade e prioridades da vida.

Maxine é contratada para filmar um desfile de uma grande casa de alta-costura. Ela vive o auge de sua carreira, finalmente realizando o projeto dos seus sonhos — mas logo no início desse processo, descobre que tem câncer de mama. Paralelamente, acompanhamos duas outras mulheres: Alda (Anyier Anei), uma modelo sul-sudanesa, e Angèle (Ella Rumpf), uma maquiadora francesa, que também enfrentam seus próprios desafios no universo da moda.

Angelina Jolie assume um papel que parece profundamente pessoal. Sua atuação é nua e vulnerável, tocando em temas de doença e sobrevivência que espelham parte de suas experiências reais — o que dá ao filme um peso emocional verdadeiro.

Coutures – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

O cenário é fascinante: por trás do brilho da alta-costura, o filme se distancia do glamour das passarelas e busca revelar os “pequenos detalhes” e os trabalhadores escondidos no backstage desse mundo. Visualmente e conceitualmente, há muita textura — a Paris da moda, os ateliês de costura, as histórias interculturais de mulheres e as pressões de uma indústria fashion.

No entanto, o desafio de equilibrar três narrativas tão distintas fica evidente. Como cada personagem vive em contextos muito diferentes, algumas tramas acabam ficando subdesenvolvidas, deixando o filme, em certos momentos, desigual. As trocas de perspectiva acontecem em tempos estranhos, quebrando o ritmo emocional e fazendo a história parecer um pouco desconexa.

Coutures – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

É uma pena, porque a jornada de Maxine traz um olhar delicado e profundamente feminino sobre a descoberta do câncer de mama. Você sente sua dor, a perda de si mesma, seus medos e arrependimentos. Maxine convida o público a estar em seus sapatos — cada detalhe do processo de aceitação é retratado de forma crua e sincera, mais dolorosa do que se imagina.
Pelos olhos de Alda, vislumbramos o lado difícil e invisível do mundo das modelos — a pressão para se adaptar, os sacrifícios feitos em busca de uma “vida melhor”. E através de Angèle, a maquiadora, temos momentos breves porém tocantes, que humanizam os rostos por trás do glamour.

Jolie entrega uma performance silenciosamente poderosa, e o cenário é um grande atrativo. Ainda assim, o filme tinha um potencial enorme e poderia ter se beneficiado de uma edição mais coesa e de conexões mais profundas entre as histórias.
Couture deve ressoar especialmente com quem aprecia dramas centrados em personagens, mais do que produções chamativas de Hollywood. É para quem se interessa por histórias de mulheres enfrentando crises pessoais e dilemas criativos. Se você espera brilho e passarelas, pode se decepcionar — mas se busca a verdade nua por trás dos bastidores da indústria, esse filme merece sua atenção.

Coutures – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

Coutures talvez não seja um sucesso de bilheteria no sentido tradicional, mas vale a pena colocá-lo na sua lista de “assistir em breve”, mais do que na de “correr para o cinema na estreia”.

 

Crítica por Lorrayne Gabrielle.

Filme assistido no 27ª Festival do Rio – Rio de Janeiro Int’l Film Festival (2025)

 

Coutures
Estados Unidos/França, 2025, 106min.
Direção: Alice Winocour
Roteiro: Alice Winocour
Elenco: Angelina Jolie, Ella Rumpf, Anyier Anei
Produção: Charles Gillibert, William Horberg, Zhang Xin
Direção de Fotografia: André Chemetoff
Música: Filip Leyman, Anna von Hausswolff
Classificação: 12 anos

 

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