Thriller sobre fetiches de submissão falha na construção do suspense e do erotismo.
O thriller erótico indicado ao Globo de Ouro chega aos cinemas de todo o país esse mês. Romy Mathis, uma CEO de sucesso, se envolve em um relacionamento com um jovem estagiário, Samuel, interpretado por Harris Dickinson. O filme explora temas de poder, submissão e a busca pelo prazer feminino, utilizando metáforas e nuances para aprofundar a narrativa. O prazer feminino, que raramente é mostrado nas telas de cinema, ganha aqui o seu protagonismo.
Essa análise do prazer feminino às vezes foge da sua intenção, e pode tornar o filme monónono ou simplesmente desinteressante para o espectador que espera um poderoso thriller. Acontece que, apesar do filme falhar nos dois quesitos que se propôs, apresentando cenas eróticas desprovidas de sensualidade e um suspense que não evolui, o longa carrega outras marcas e outros pontos positivos necessários para uma análise mais aprofundada.

Uma das cenas mais icônicas mostra Romy bebendo um copo de leite, simbolizando pureza e submissão da personagem. Este ato, aparentemente inocente, é completamente carregado de conotações eróticas e de poder, refletindo a dinâmica complexa entre os personagens, juntamente com a submissão e a autoridade presente em cada um deles. A diretora Halina Reijn revelou que a cena foi inspirada por uma experiência pessoal. As cenas de sexo são gravadas para gerar um certo incômodo às pessoas que não estão acostumadas com essa personalidade submissa e não convencional, e são extremamente bem filmadas. A atuação de Nicole Kidman é exuberante, não é atoa que ela foi indicada para o prêmio de Melhor Atriz em filme de Drama. Sua personagem está em constante dualidade.
A relação dos protagonistas é essencial para expor a construção da personalidade de ambos. Romy é retratada como uma CEO altamente autoritária, uma líder de sucesso em um ambiente corporativo onde o poder, a decisão e o controle são indispensáveis. Contudo, em sua vida íntima, especialmente em sua relação sexual com Samuel, ela adota um papel de submissão. Isso pode representar várias camadas de nuances psicológicas e sociais. No trabalho, ela está constantemente no controle, forçada a tomar decisões e a manter uma postura de autoridade.

Na vida sexual, sua submissão pode ser interpretada como uma forma de escapar dessa pressão constante, um espaço onde ela pode se desconectar da sua vida profissional e explorar ao máximo seus prazeres sexuais como uma forma de descansar a mente a encontrar no corpo, o prazer, elaborando uma outra dimensão emocional, que não é possível explorar no ambiente de trabalho.
Ela não deixa de ser uma mulher poderosa por querer ceder o controle em um contexto íntimo; ao contrário, isso pode ser uma expressão de confiança e autoconhecimento. A submissão, aqui é retratada não como fraqueza, mas como uma poderosa escolha que faz com que ela consiga alcançar um certo tipo de equilíbrio interno.

Babygirl é um filme poético, incômodo e muito bem interpretado por seus protagonistas, mas não consegue trazer a emoção de um erotismo proíbido que outros longas de mesmo tema já conseguiram. Vale a pena ser assistido para estudar as nuances e comportamentos dos personagens, que muitas vezes são questionáveis. É interessante analisar as motivações e ações de cada um deles, trazendo, após os créditos, uma reflexão cravada na cabeça de cada espectador.
Crítica por Pedro Gomes.

Babygirl
Países Baixos/Estados Unidos, 2024, 115 min.
Direção: Halina Reijn
Roteiro: Halina Reijn
Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas
Produção: David Hinojosa, Halina Reijn, Julia Oh
Direção de Fotografia: Jasper Wolf
Música: Cristóbal Tapia de Veer
Classificação: 18 anos
Distribuição: Diamond Films









Leave a Reply