A maturidade empresarial do setor audiovisual, acelerada pela cooperação internacional e a
integração ao guarda-chuva do Nova Indústria Brasil, encontra sua mais completa tradução
no lançamento da Federação da Indústria e Comércio Audiovisual (FICA), esta
segunda-feira, 6 de outubro, durante o RioMarket 2025, braço de negócios do Festival do
Rio, maior evento do setor na América Latina. A geração de 608 mil empregos e o giro de
R$70,4 bilhões anuais no Brasil foram as pedras de toque contra as últimas resistências ao
pleno reconhecimento da força da economia criativa. Mais do que identidade nacional e
afirmação da cultura local, o audiovisual mostrava pujança financeira comparável às
montadoras de automóveis, às siderúrgicas ou os laboratórios farmacêuticos. A arte sabia e
podia ser indústria, fonte de riqueza e desenvolvimento.
O audiovisual foi o último dos 30 setores de atividade a ser integrado ao Nova indústria
Brasil, maior programa de fomento do Governo Federal. A incorporação refletiu o trabalho
de 119 pessoas de toda a cadeia produtiva, da televisão e do cinema ao streaming. O esforço
para demonstrar o potencial do setor envolveu o levantamento detalhado dos números da
indústria.
A Federação, desde o começo, busca a cooperação com os benchmarks do setor e o
diagnóstico detalhado dos desafios e oportunidades do audiovisual. Presidente da FICA,
Walkíria Barbosa agradeceu a colaboração da Motion Picture Industries Association, que
encomendou um estudo a Oxford sobre o presente e os horizontes da cadeia produtiva do
audiovisual no Brasil. O diagnóstico aponta os obstáculos a serem superados e os trunfos
brasileiros para repetir ou mesmo ultrapassar experiências recentes de sucesso, como a Coreia
do Sul e seus doramas, a Índia de Bollywood ou a China das 90 mil salas de exibição.
Voos tão altos demandam ambição, mas não dispensam planejamento e conhecimento do
rumo dos ventos. A Coreia do Sul partiu praticamente do zero para alcançar exportações de
US$ 14 bilhões ano passado, superando os Estados Unidos, meca do cinema mundial. O
Oscar para Parasitas, marco do reconhecimento artístico da cinematografia coreana, veio
apenas na reta final do processo de expansão internacional do setor, iniciado em 2008.
A produtividade por trabalhador é outro dado que ressalta a potência e os horizontes da
cadeia produtiva do audiovisual brasileiro. Cada emprego direto resulta em outros quatro
indiretos ou induzidos. O valor agregado por trabalhador individual chega a R$ 259 mil, mais
de três vezes a média dos demais segmentos industriais, que não ultrapassa R$ 73 mil.
Coordenadora do estudo de Oxford, Andressa Papas, destaca que o segmento de Video On
Demand, que já alcança mais da metade da receita anual da TV aberta (R$ 8,6 bilhões ante
R$14,1 bilhões), apresenta números ainda mais impressionantes por posto de trabalho. São
nada menos de R$ 600 mil por pessoa, mais de cinco vezes a média geral da indústria.
O Brasil faz parte de uma tradição mais longa do que a Coreia do Sul, com presença
internacional desde os anos 40, com Ary Barroso nas trilhas de filmes da Disney e Carmen
Miranda em musicais de sucesso, depois o Cinema Novo consagrado em festivais de Cannes
e Berlim. O Oscar para uma produção nacional, Ainda Estou Aqui, veio no ano passado,
depois de indicações sucessivas para filmes como Cidade de Deus e Central do Brasil, nos
últimos vinte anos. Sinais que animam Walkíria Barbosa a projetar uma consolidação ainda
mais rápida da indústria e comércio audiovisual no Brasil. A FICA negocia com Amanda
Groom, uma das responsáveis pela formulação da estratégia de desenvolvimento da indústria
audiovisual sul-coreana, estudo semelhante para o Brasil, a ser iniciado tão logo Amanda
encerre trabalho de fôlego idêntico na Índia. A perspectiva de aproximar atividades como a
criação e desenvolvimento de games ou a criação de conteúdo para plataformas de internet,
que movimentam R$37 bilhões apenas no ano passado, fazem com que o céu seja o limite
para o setor. É a hora e a vez do Brasil nas telas do mundo.







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