Crítica – Drácula: Uma História De Amor Eterno (Dracula)

Novas perspectivas sob um clássico, dando-lhe novo fôlego e frescor.

O cinema usa da adaptação literária como uma de suas fontes mais primorosas. Pequenas e grandes obras da literatura mundial já se transformaram em filmes, séries e sagas, dando perspectivas imagéticas às palavras de seus escritores. Um dos romances mais adaptados ao longo da história do cinema é Drácula, escrito por Bram Stoker em 1897, e que definiu o imaginário popular dos vampiros e todo o universo que deles se cria.

Diversas são as adaptações deste mesmo livro, indo do clássico Drácula de 1931 – com Bela Lugosi interpretando o protagonista – ao cult Drácula de Bram Stoker de 1991 – dirigido por Francis Ford Copolla e estrelado por Gary Oldman –. Além desses, temos as versões de Nosferatu (1922 e 2024), além de inúmeros outros sob a temática principal e tantos mais baseados em personagens secundários e tendo como plano de fundo a ideia central da história. Tendo em vista a quantidade de adaptações da mesma, é de se pensar que tornar a abordá-la no cinema seja algo, no mínimo corajoso. Buscar novas facetas de um clássico da literatura gótica, tão entranhado no imaginário popular, se torna uma tarefa desafiadora.

Dracula – Paris Filmes (2025) / Foto: Reprodução/TMDB

Luc Besson tomou para si essa missão em Drácula – Uma História de Amor Eterno. Mesclando aspectos essenciais do romance de Bram Stoker e novas formas de abordá lo, o filme se mostra bastante agradável e, considerando-se o tema recorrente, até mesmo inovador. É interessante, pois, fazer um comparativo entre a obra nova e as já existentes.

O aspecto que mais soa interessante nessa nova versão é criar uma história pregressa para Vlad (Caleb Landry Jones), o Príncipe protagonista que vem a se tornar o Conde Drácula. Aqui, ele é um grande guerreiro, que ao entrar em guerra em nome de seu Deus, vê-se devastado pela perda de sua amada Elisabeta (Zoë Bleu). Entendendo que a culpa por sua morte é justamente de Deus, por não tê-la protegido, Vlad O amaldiçoa, sendo, em retorno, fadado a não morrer e a conviver ininterruptamente com o sofrimento da perda. Essa não é, contudo, a primeira vez que vemos Vlad como um guerreiro.

Dracula – Paris Filmes (2025) / Foto: Reprodução/TMDB

Em Drácula – A História Nunca Contada (2014), Luc Evans interpreta Vlad Tepes, um príncipe da Transilvânia que se vê obrigado a guerrear contra os turcos e a fazer um pacto com um ser sombrio em troca da vitória. Representar o protagonista em ambos os filmes como grandes guerreiros se dá justamente pela inspiração de Bram Stoker para o mesmo em Vlad III, príncipe romeno do século XV, conhecido como O Empalador. Vlad tinha esta alcunha por ser implacável e cruel contra seus inimigos, usando-se da técnica de empalação, isto é, a inserção de uma estaca no corpo da pessoa torturada. É também dele que vem o nome Drácula, uma vez que seu sobrenome era Dracul (Dragão/Diabo) e seu filho herdou o título de Dracula, significando “filho do Dragão/Diabo)”. Entretanto, a diferença deste filme para o de Besson encontra-se no enfoque e motivações do guerreiro. Em Uma História de Amor Eterno, criamos um vínculo pregresso entre Drácula e sua amada Elisabeta, vínculo este que se torna essencial para que haja a maldição e a própria criação dos seres vampíricos. É por conta da ausência desse amor que ele se fada a viver pela eternidade e a iniciar uma busca pela reencarnação de sua amada.

Aqui, temos um ponto que se assemelha às adaptações mais conhecidas de Drácula, como o filme de Copolla e os Nosferatu, em que existe um vínculo de outras vidas entre Drácula e a reencarnação de Elisabeta, Mina Murray. Entretanto, mais uma vez, o filme de Besson consegue amarrar de maneira mais interessante a fixação de Drácula com Mina, o que torna a sua busca mais aceitável aos olhos dos espectadores. Conseguimos entender a sua dor, de forma que ele se torna mais compreensível e, via de consequência, mais humano.

Dracula – Paris Filmes (2025) / Foto: Reprodução/TMDB

As escolhas estéticas e de tom do filme também contribuem positivamente para esta nova versão. Trazendo elementos constantes nas histórias de Drácula, como a sensualidade dos personagens, o sangue como um elemento de desejo e a presença de mortes cruéis e à mostra, o filme também aposta numa espécie de comicidade vitoriana, entendida como um humor que beira ao delírio, com cenas que mesclam realidade e devaneios, criando situações que ilustram muito o aspecto psicológico dos personagens, imersos em um mundo em que o obscuro e incompreensível está sempre à espreita. Sem dar spoilers sobre o final, é possível concluir dizendo que o filme consegue abordar e encerrar a saga dos personagens de maneira ao mesmo tempo fiel e distinta do romance literário. Atrelar a história original à existência pregressa desse amor imortal entre Drácula e Elisabeta é a chave para que se consiga inovar em meio ao já postulado. E fazer com que se queira – de novo – assistir a mais uma história de vampiros.

 

Crítica por Bianca Rolff.

 

Drácula: Uma História de Amor Eterno | Dracula
França, 2025, 129 min.
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Caleb Landry Jones, Christoph Waltz, Zoë Bleu Sidel
Produção: Luc Besson, Virginie Besson-Silla
Direção de Fotografia: Colin Wandersman
Música: Danny Elfman
Classificação: 16 anos
Distribuição: Paris Filmes

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