MINISTÉRIO DA CULTURA, GOVERNO DE MINAS GERAIS E PETROBRAS APRESENTAM:
18a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte
15th Brasil CineMundi – Internacional Coproduction Meeting
24 a 29 de setembro de 2024
NA 18a CINEBH, DESAFIOS DO CINEMA NA AMÉRICA LATINA FORAM DEBATIDOS EM MEIO A DISCUSSÕES SOBRE O FUTURO DO AUDIOVISUAL NO CONTINENTE E DA NECESSIDADE DE MILITÂNCIAS ARTÍSTICAS PARA VIABILIZAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO
Agora na maioridade, a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte concluiu sua 18a edição reafirmando-se como uma das maiores janelas para o cinema latino-americano no Brasil e espaço garantido para discussões sobre a produção brasileira ainda em desenvolvimento, graças ao programa Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting, em sua 15a edição. A Mostra mobilizou mais de 15 mil pessoas ao longo de seis dias em exibições, debates e encontros, não só destacando o cinema do continente como também lançando luz sobre os desafios e avanços no cenário audiovisual brasileiro quanto internacional. Novamente a CineBH é palco de diálogo, inovação e articulação de novas parcerias e tendências na América Latina.
Um dos momentos mais emocionantes do festival foi a homenagem à diretora e roteirista Anna Muylaert, que recebeu tributo por sua contribuição ao cinema brasileiro. Em seu discurso na cerimônia de abertura, Muylaert exaltou o papel das mulheres no audiovisual e a importância de suas histórias, sempre escritas por ela, ganharem espaço no cinema. A homenagem foi também um ato de celebração à trajetória feminina nas telas e por trás das câmeras, lembrando a luta contínua por mais representatividade e igualdade de gênero no setor. “Qualquer uma de nós pode estar nesse palco”, disse Muylaert, emocionada.

Em encontros no Palácio das Artes ao longo do evento, especialistas do audiovisual e autoridades do setor discutiram os rumos do cinema brasileiro, com especial foco na regulamentação de plataformas de streaming, reivindicação constante do setor, e as dificuldades de mobilizar plateias para os cinemas nacionais diante da força de mercado de grandes conglomerados de conteúdo. Alguns encontros trataram de questões urgentes sobre o futuro do mercado, as políticas públicas e as condições de trabalho para realizadores e produtores. Apesar das ressalvas, destacou-se o papel crescente que plataformas digitais desempenham na difusão de conteúdos brasileiros e latino-americanos, ainda que haja desafios incontornáveis dos produtores em termos de contratos e propriedade intelectual.
Durante a CineBH, a Secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga, fez um anúncio histórico sobre a volta dos arranjos regionais (complementação do governo federal a produções aprovadas em editais municipais e estaduais), o que deve ampliar a realização de novas obras. Também foi anunciada pela SAV, a partir de decisões do Comitê Gestor do Fundo Setorial de Audiovisual (CGFSA), que será feita reserva de 25% dos recursos para empresas vocacionadas (que possuem atuação especializada e contínua em áreas específicas da cadeia produtiva do audiovisual, como produção, distribuição, exibição e comercialização de obras) e uma reserva mínima de 50% à paridade de gênero nas funções de direção, roteiro e produção executiva em projetos contemplados. “Tem sido tudo intenso e exaustivo, mas avançamos bastante em conquistas que vão estar para vocês nos próximos dias”, adiantou Gonzaga em conversa com a classe audiovisual presente na CineBH.

Nos encontros do 15º Brasil CineMundi, integrado à CineBH, produtores e cineastas tiveram a oportunidade de discutir novas possibilidades de financiamento e exibição para suas obras, abrindo portas para o desenvolvimento de futuros projetos. O Brasil CineMundi tem se firmado como uma plataforma essencial para a internacionalização de obras latino-americanas, ao conectar criadores com grandes players da indústria. Com a presença de realizadores de vários países da América Latina, a expansão das experiências se tornou um dos pontos centrais.
Entre vários aspectos singulares a cada país latino-americano, destacou-se o papel do ativismo artístico, ou seja, a necessidade de que criadores lutem por políticas públicas no setor diante das democracias frágeis do continente e às constantes crises econômicas. A produtora argentina Eugênia Campos Guevara destacou a dependência do cinema de seu país em relação ao Estado e as dificuldades recentes diante de um governo refratário à cultura. Ela ressaltou que a produção cultural é frequentemente vista como “desperdício” no atual momento e que não há reconhecimento à complexidade especialmente econômica da cadeia produtiva do setor. “Estamos sempre esperando que algo aconteça e nunca sabemos se vai haver alguma possibilidade de financiamentos”, afirmou.

A produtora se preocupa com a incerteza em torno do financiamento público na Argentina e o risco da falta de continuidade de muitos projetos, além do temor de censuras. Apesar disso, ela reconheceu que é impossível pensar numa política cultural séria sem a participação do Estado, embora também defenda a busca por alternativas que reduzam a dependência estatal.
O Chile, segundo a diretora executiva do Conecta-CCDoc, Paola Castillo, viveu recentemente uma fase de grande visibilidade no cenário internacional, inclusive com produções ganhando o Oscar e a ascensão de uma vasta diversidade de temas e formatos. No entanto, ela expressou preocupação com o futuro do setor, especialmente diante das políticas neoliberais e autoritárias que insistem em sempre voltar na América Latina.

Pelos 15 anos de CineMundi, produtores que já participaram do programa elogiaram sua constância e realização e ressaltaram o quanto estar em contato com “players” do mercado ajuda no desenvolvimento dos projetos, inclusive para entender as ressalvas necessárias. “Meu primeiro longa, ‘Amor Plástico e Barulho’, foi filmado em 2012 e passou CineMundi em 2011. Para todos nós envolvidos no filme, a ideia de uma coprodução internacional era uma novidade muito desejada”, relembrou a diretora e roteirista Renata Pinheiro, que voltou ao programa alguns anos depois com “Carro Rei”, seu segundo longa. “Sem dúvida ele saiu daqui mais maduro do que chegou. Estreamos em Roterdã em 2021, no meio da pandemia, um período muito complicado, o que mostra o quão longe ele viajou, mesmo nas circunstâncias adversas. A internacionalização dos nossos projetos brasileiros é fundamental”.
Em sua programação, a CineBH exibiu um amplo leque de títulos inéditos da América Latina, e a presença de filmes de países como Chile, Argentina, Cuba e Brasil ilustrou a ideia da curadoria deste ano sobre “Estado(s) do cinema latino-americano” de que, embora o continente compartilhe uma história comum, as realidades vividas por cada nação são únicas. Além dos debates sobre o mercado e a produção, vários encontros apresentaram reflexões sobre o papel do cinema enquanto forma de resistência cultural e política, especialmente diante de um cenário global cada vez mais complexo.
A CineBH, ao adotar a América Latina como eixo, também se coloca como um território de trocas e de experimentação, onde o cinema é visto não só como arte, mas como ferramenta de transformação social. A Mostra pretende continuar a desempenhar um papel de vanguarda nesse cenário, sendo de fato instrumento transformador e catalisador do audiovisual latino.








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