O Olhar Misterioso do Flamingo – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

Crítica | O Olhar Misterioso do Flamingo (La Misteriosa Mirada del Flamenco) [27ª Festival do Rio]

Um conto sobre amor, exclusão e um retrato sobre a coragem de existir.

O olhar Misterioso do Flamingo é um filme precioso que aborda temas sensíveis de forma lúdica e inocente, prometendo tocar o coração do espectador ao mostrar o calor e o afeto de uma família que se escolheu. É uma história sobre a busca do ser humano por amor e afeto.

O filme se passa na década de 1980, em uma vila de mineiros no meio do deserto, onde se encontra a Casa Alaska, lar de Mama Jiboia e de várias travestis que vivem juntas como uma família. Entre elas está Flamingo, mãe adotiva de Lídia. Logo no início, vemos Flamingo adoecendo e ouvimos falar sobre uma “peste”, que, segundo os moradores locais, seria transmitida de uma travesti para outra pessoa quando um olhar de amor e desejo é trocado entre elas.

O Olhar Misterioso do Flamingo – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

A Casa Alaska, que antes era um ponto de encontro e diversão para a comunidade, passa a ser vista como um local de contaminação e acaba sendo excluída. No entanto, quando as luzes se apagam, portas se abrem secretamente, e todas as preocupações são esquecidas no calor da noite. Em uma dessas noites de alegria, a família decide realizar um show de talentos, em que Flamingo, como sempre, é a grande estrela. Durante a apresentação, porém, uma presença sombria surge: o ex de Flamingo invade o palco, acusando-a de tê-lo contaminado com a peste.

Com ternura, Flamingo apenas o encara e diz que o que ele chama de doença não tem cura. Enfurecido, ele parte para a agressão, mas é expulso pelas outras meninas a socos. Na calada da noite, o homem retorna, apela para o lado emocional de Flamingo e a convence a sair para um encontro de amor. Em um momento de intimidade, ele a mata covardemente.

O Olhar Misterioso do Flamingo – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

Ao receber a denúncia, a família de Flamingo sai em sua busca e encontra o corpo frio e violado da matriarca. Lídia, desesperada, corre até o local e, ao ver sua mãe naquele estado, o público inevitavelmente compartilha de sua dor. Revoltada, ela jura buscar justiça e decide vingar a morte de Flamingo ao descobrir que o assassino vive na vila ao lado.

Enquanto os rumores se espalham pela comunidade e diferentes personagens dão suas versões sobre a peste, Lídia, em sua inocência, se confunde e passa a questionar o quanto dessas histórias é verdade. Em um dos momentos mais marcantes do filme, Mama Jiboia pergunta à menina: “Você já viu algo de mal em meus olhos?”. A frase ecoa tanto em Lídia quanto no coração do espectador. O longa também provoca uma reflexão sobre a linha tênue entre o medo e o amor, e sobre o peso que a visão da sociedade impõe sobre aqueles que se atrevem a viver sua verdade.

O Olhar Misterioso do Flamingo – 27ª Festival do Rio (2025) | Imagem: Reprodução TMDB

O filme retrata com delicadeza a relação de amor, admiração e respeito entre Lídia e sua mãe, muitas vezes expressa não em palavras, mas em olhares de ternura. Mostra que, mesmo em famílias consideradas “anormais” pela sociedade, os laços de união são mais fortes que qualquer preconceito. A fotografia deslumbrante e colorida torna tudo ainda mais imersivo, dando vida e brilho aos personagens e às paisagens do deserto. O Olhar Misterioso do Flamingo revela, com a simplicidade do olhar de uma criança, uma comunidade marginalizada, mas cheia de humanidade. É um filme sobre como o amor pode construir e destruir vidas; e sobre a ternura que persiste mesmo nas sombras.

 

Crítica por Lorrayne Gabrielle.

Filme assistido no 27ª Festival do Rio – Rio de Janeiro Int’l Film Festival (2025)

 

O Olhar Misterioso do Flamingo | La Misteriosa Mirada del Flamenco
Chile/França/Alemanha/Espanha/Bélgica, 2025, 104min.
Direção: Diego Céspedes
Roteiro: Diego Céspedes
Elenco: Tamara Cortés, Matías Catalán, Paula Dinamarca
Produção: Giancarlo Nasi, Justin Pechberty, Damien Megherbi
Direção de Fotografia: Angello Faccini
Classificação: 16 Anos
Distribuição: Imovision

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