Ayô - 27ª Festival do Rio (2025)

Crítica | Ayô (Episódios 1-3) [27ª Festival do Rio]

Uma narrativa criativa e carismática sobre a comunidade queer no mundo do cinema.

Criada, protagonizada e roteirizada por Lucas Oranmian, a série acompanha Ayô, um jovem ator negro, gay e baiano, vivendo em São Paulo e insatisfeito com sua vida amorosa e sua carreira. E é aí que está a maior beleza da série: ela é natural. Não se apoia apenas nas dificuldades, pois a intenção aqui não é mostrar o povo preto e gay em sofrimento, e sim mostrar risadas, alegrias, tropeços e amores e retratar o quão lindo e difícil é tentar ser quem você é, mantendo sua própria integridade num país que insiste em te moldar.

O primeiro episódio já conquista pelo carisma do personagem principal. Ayô é daqueles protagonistas que rapidamente ganha a torcida do espectador: é engraçado, sonhador, um pouco perdido e dono de ideais extremamente cativantes. A atuação de Lucas é espontânea, e é impossível não torcer por ele. A cada cena, você quer saber se ele vai conseguir o papel, se vai encontrar o amor, se vai alcançar seus objetivos. É a vida real contada com afeto e ritmo.

Ayô – 27ª Festival do Rio (2025)

A obra consegue ser leve sem perder a profundidade, mantendo nas entrelinhas a crítica a uma sociedade intrinsecamente homofóbica e racista. A série entende o público ao equilibrar humor e curiosidade, com uma naturalidade rara nos diálogos, nas situações e até nas gírias.

Outro ponto forte é o elenco de apoio. Os coadjuvantes têm alma e personalidade: cada um com seu conflito, seu desejo e sua função dentro do mundo de Ayô. O seriado, repleto de química e dinamismo, torna gratificante e relaxante assistir aos encontros e desencontros de cada personagem em tela. A equipe transmite uma energia coletiva tão grande que é perceptível a fé que todos depositaram nesse projeto.

Ayô – 27ª Festival do Rio (2025)

Ao contrário de muitas produções com temáticas raciais e queers, Ayô não quer apenas ensinar, quer mostrar como é a vida para quem está do outro lado. A série opta pelo retrato da vivência em vez de um discurso estruturado, entendendo que o ato de sorrir e encarar os desafios da vida de cabeça erguida já é, por si só, um ato de resistência.

Ayô entrega um trabalho colorido, alegre e bem-humorado, que consegue até mesmo tirar o aspecto frio e cinza de São Paulo, transformando a cidade em um espaço de possibilidades. A direção de arte e a fotografia fazem um trabalho essencial para a criação dessa atmosfera vibrante.

Ayô – 27ª Festival do Rio (2025)No fim, o que fica é a vontade de acompanhar mais da vida dos personagens. Ayô é o tipo de série que faz a gente lembrar por que amamos acompanhar histórias: porque elas nos espelham e nos fazem enxergar as alegrias e as dores que estão além da nossa bolha. Ayô é uma série que exala a leveza de existir.

 

Crítica por Pedro Gomes.

Três primeiros episódios da série assistidos na 27ª Festival do Rio – Rio de Janeiro Int’l Film Festival (2025)

 

Ayô
Brasil, 2025, 54min (Episódios 1-3)
Direção: Yasmin Thayná
Roteiro: Lucas Oranmian
Elenco: Lucas Oranmian, Caio Blat, Gilda Nomacce
Produção: Gabriel Bortolini
Direção de Fotografia: Gabe Gomez
Música: Guilherme Kastrup, Bruno Morais
Classificação: Não definida

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