Uma carta de amor ao caos e improviso que é fazer cinema.
Após Estranho Caminho, sucesso dramático de Guto Parente, agora o diretor se aventura em uma comédia exagerada e divertida ao retratar com bom humor as dificuldades de fazer cinema. A história segue Madalena, uma produtora de cinema que tem que lidar com a morte recente do pai, sua gravidez de 8 meses e a produção de uma ficção científica B onde tudo parece dar errado.
Guto tem plena consciência e confiança na forma como representa o cinema. O humor é construído às margens do absurdo da realidade, dando espaço para os cineastas rirem de suas próprias lutas e dificuldades. Com referências bem estruturadas de Fellini à Kubrick, o diretor lança mais uma vez uma obra extraordinária. Ano passado se destacou no drama familiar e agora mostra sua força também na comédia.

A atuação de Noá Bonoba merece ser ovacionada. Não existiria Madalena sem Noá, porque ela carrega grande parte do humor do filme com uma presença em cena quase magnética, dando vida a uma personagem que, apesar de séria, é extremamente divertida com sua naturalidade. É uma interpretação que foge do óbvio, e apesar das situações absurdas vividas por ela, não recorre ao excesso em momento algum.
Da mesma forma, é impossível não destacar Nataly Rocha, que em Motel Destino já havia provado seu talento extraordinário, e aqui reafirma sua potência como atriz. Nataly constrói a melhor coadjuvante da obra. Interpretando uma assistente de direção cativante, sua personagem tenta segurar as pontas o tempo inteiro nesse set de filmagem caótico onde o filme é ambientado.

Guto abraça todas as dificuldades que acontecem na hora H: mortes em família que paralisam a gravação, chuva, discordâncias criativas, substituição de trabalhadores, pessoas que simplesmente não aparecem no set e até mesmo uma greve motivada pela falta de verba.
Em vez de enxergar esses acontecimentos como barreiras, o filme os transforma em parte viva da própria história, retratando com humor o caos de se fazer cinema no Brasil. Cada imprevisto vira material cômico, como se o longa quisesse nos mostrar que não existe queda tão grande quando ainda é possível rir dela. Essa leveza, que nasce do improviso e da sinceridade em lidar com a falta de estrutura, torna Morte e Vida Madalena uma experiência ainda mais próxima do público. Ao rir daquilo que poderia ser só dor de cabeça, a gente se conecta não apenas com as dificuldades, mas também com a energia e a teimosia de quem insiste em filmar mesmo quando tudo parece conspirar contra.

Morte e Vida Madalena é uma comédia absurda, inteligente e criativa, que homenageia a arte de fazer cinema.
Crítica por Pedro Gomes.
Filme assistido no CineBH International Film Festival (2025)
Morte e Vida Madalena
Brasil/Portugal, 2025, 85min.
Direção: Guto Parente
Roteiro: Guto Parente
Elenco: Noá Bonoba, Nataly Rocha, Tavinho Teixeira
Produção: Ticiana Augusto Lima
Direção de Fotografia: Ivo Lopes Araújo
Música: Lucas Coelho
Classificação: 12 Anos
Distribuição: Embaúba Filmes
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