Um projeto guiado por intenções genuínas, porém limitado pela falta de originalidade.
O filme gira em torno de Glória, uma criança de 10 anos que passa as férias no hospital onde sua mãe trabalha como enfermeira. Lá ela conhece Sofia, uma menina que está convencida de que a piora na saúde da bisavó é causada pela internação no hospital. Unidas pelo desejo de sair dali, as crianças encontram conforto na companhia uma da outra. Quando a partida se torna inevitável, as meninas e suas mães seguem para um refúgio no interior do Goiás para passar os últimos dias de um verão inesquecível.
O cinema de formação, o chamado coming-of-age, é sempre um território delicado. Quando bem conduzido, abre espaço para obras que atravessam a nossa sensibilidade de maneira única, como em The Florida Project (2017) e Petite Maman (2021). É dentro desse terreno já amplamente explorado que Rafaela Camelo apresenta A Natureza das Coisas Invisíveis, filme que parte de uma proposta ousada, mas que acaba tropeçando em sua própria ambição.

A sensação que temos é que estamos diante de uma colagem de referências: há algo de The Florida Project, de Sean Baker, nos olhares infantis que observam problemas adultos; muito da sensibilidade de Céline Sciamma (Garotas, Tomboy, Petite Maman) no modo de filmar a intimidade; e ecos diretos do delicado retrato da transição na infância de 20 Mil Espécies de Abelhas. O problema é que, ao tentar dialogar com tantas obras já consagradas, o filme acaba soando como não inovador. Apesar de compreender a escolha do tema e sua abordagem, para um primeiro longa se destacaria mais caso a diretora trouxesse uma perspectiva mais arriscada ou uma narrativa mais singular.
O tema abordado pela diretora na construção de sua história é necessário e pertinente, mas soa forçado quando não consegue ser retratado com naturalidade. A direção de elenco demonstra sensibilidade, especialmente com as crianças, e há momentos de autenticidade que emergem justamente quando o filme abandona a tese e se abre para o cotidiano. São nessas brechas que a obra respira e sugere o longa que poderia ser, caso confiasse mais na sua capacidade sensorial.

A atuação das crianças é, sem sombra de dúvidas, o ponto positivo mais forte da obra. A espontaneidade da dupla é notável, as risadas, as brincadeiras os silêncios. Serena e Laura garantem ao espectador momentos de genuína empatia e ternura, como se o frescor da infância resistisse a qualquer tempestade. Nesse aspecto, a diretora demonstra sensibilidade ao confiar o peso dramático a intérpretes tão jovens. Mesmo em cenas em que o roteiro parece se perder, é a entrega delas que mantém a atenção e alimenta a empatia do espectador com as personagens.

No fim, A Natureza das Coisas Invisíveis é um filme de intenções nobres, que procura iluminar questões necessárias, mas que não encontra originalidade suficiente para se destacar em um cenário já povoado por referências muito fortes.
Crítica por Pedro Gomes.
Filme assistido no CineBH International Film Festival (2025)
A Natureza das Coisas Invisíveis
Brasil, 2025, 90min.
Direção: Rafaela Camelo
Roteiro: Rafaela Camelo
Elenco: Laura Brandão, Serena, Larissa Mauro
Produção: Daniela Marinho, Rebeca Gutiérrez Campos, Otavio Chamorro
Direção de Fotografia: Francisca Sáez Agurto
Música: Lucas Coelho
Classificação: 12 Anos
Distribuição: Vitrine Filmes
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