The Long Walk - Paris Filmes (2025)

Crítica – A Longa Marcha (The Long Walk)

O fascínio do ser humano em transformar sofrimento em espetáculo.

Em um futuro distópico, 100 jovens participam de uma competição brutal na qual só um pode sobreviver. Eles devem caminhar sem parar, desafiando os próprios limites do corpo. A competição é organizada por um governo autoritário e, quem desacelerar demais ou desobedecer, recebe avisos e, no terceiro, é executado. Só o último sobrevivente conquista o prêmio: “o que quiser pelo resto da vida”.

Os participantes caminham por escolha (ainda que condicionada). Não é como em Jogos Vorazes, onde os tributos são sorteados contra a vontade. Aqui, todos eles são voluntários, o que levanta uma reflexão: até que ponto o ser humano aceita seu próprio sacrifício em troca de uma promessa ilusória de liberdade ou recompensa?

The Long Walk – Paris Filmes (2025)

Cultuar a tragédia é algo que o ser humano faz desde os primórdios da humanidade. Execuções em praça pública, arenas de gladiadores em Roma, touradas, fogueiras da Inquisição, enforcamentos coletivos — tudo isso revela uma mesma lógica: a dor alheia como forma de entretenimento e controle social. O sofrimento, quando exposto diante da multidão, deixa de ser apenas um destino cruel e passa a servir como espetáculo, uma narrativa construída para satisfazer a curiosidade, o medo ou até a sensação de poder de quem assiste. A violência sempre foi ritualizada, e em A Longa Marcha isso não é diferente.

Grande parte da força da narrativa está no mergulho psicológico dos personagens, que precisam travar uma batalha contra a própria mente para sobreviver. Cada um tem um motivo para o aceite desse desafio. A morte dos colegas, que ocorre de forma banalizada e mecânica, sem cerimônia, vai minando a resistência psicológica dos participantes. Ainda assim, em meio a toda essa tragédia, há espaço para formar laços entre eles, ainda que todos saibam que esse laço acabará em breve.

The Long Walk – Paris Filmes (2025)

A Longa Marcha é um dos textos mais potentes de Stephen King porque não depende do sobrenatural para gerar horror. O terror está no humano, na obediência cega, no governo autoritário que cria uma ilusão de liberdade. A vitória, por mais que almejada por todos, ainda soa vazia. Ao caminhar rumo à morte de forma voluntária, fica explícita a crítica social que o autor quis retratar com a obra.

Em suma, o filme vai além de um simples terror. É uma crítica ao culto à tragédia, que acaba revelando mais sobre nós mesmos do que sobre o sofrimento em si. A busca incessante de um sentido para nossa existência acaba colocando o ser humano em situações de provação, como um espelho da nossa própria vulnerabilidade.

 

Crítica por Pedro Gomes.

 

A Longa Marcha | The Long Walk
Estados Unidos, 2025, 108min.
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: JT Mollner
Elenco: Cooper Hoffman, David Jonsson, Garrett Wareing
Produção: Francis Lawrence, Roy Lee, Cameron MacConomy
Direção de Fotografia: Jo Willems
Música: Jeremiah Fraites
Classificação: 18 anos
Distribuição: Paris Filmes

Não perca nenhum conteúdo! Siga o Vi nos Filmes no Instagram, Youtube e Tiktok