Expansão do universo de John Wick em uma dança de violência.
John Wick conquistou o mundo ao entregar um filme com roteiro simples, que foi se desenvolvendo em um leque de possibilidades ao longo da franquia. Subtramas bem escritas, personagens secundários com um background interessante e, o mais impressionante de tudo: a coreografia. Violência gráfica utilizada de forma extremamente satisfatória em cenas de luta de tirar o fôlego, nas quais todos os objetos — até mesmo um lápis ou um livro — podem se tornar armas. Bailarina não foge dessa essência e entrega uma bela expansão do universo criado por Chad Stahelski.
No novo filme, a trama segue Eve Macarro, uma assassina habilidosa que foi treinada nas tradições da organização Ruska Roma. Ela busca vingança contra aqueles que assassinaram sua família. O filme se passa entre os eventos de John Wick: Capítulo 3 – Parabellum e John Wick: Capítulo 4. Além de explorar o mundo das assassinas de aluguel, Bailarina traz de volta Anjelica Huston como a mentora de uma academia de balé que funciona secretamente como uma escola de mercenários.

O filme começa em grande estilo, com o pai de Eve a protegendo ainda criança durante uma batalha intensa que culmina com sua morte. A partir daí, Eve é “adotada” pela Ruska Roma, onde desenvolve habilidades de combate essenciais para buscar vingança contra os assassinos de seu pai. A construção da personagem e sua introdução no universo de John Wick chamam bastante a atenção. Eve não é apenas uma versão feminina de Wick — ela é uma mulher poderosa, marcada por um passado traumático e movida por uma sede incontrolável de vingança. Sua carga dramática é profunda, e ao longo da trama percebemos que ela é uma excelente escolha para dar continuidade à franquia, mantendo o ritmo intenso e a atmosfera característica da saga.
A fotografia apresenta um visual predominante de neo-noir, com uso expressivo de contrastes entre luz e sombra, além de uma paleta de cores que valoriza tons frios e sombrios. O sangue se destaca visualmente, seja tingindo a neve branca ou escorrendo sob luzes artificiais em tons azulados e vermelhos. A direção de fotografia não só dá ênfase às cenas de luta, como também reforça o estado emocional da protagonista. As batalhas são enquadradas com precisão e ritmo, trazendo uma coreografia carregada de brutalidade e elegência.

Além da bela construção da protagonista, a obra se destaca pelo equilíbrio entre ação e emoção. Temos uma longa introdução para nos contextualizar sobre todo o sofrimento que Eve passou, onde predomina uma atmosfera melancólica e sombria. Sua busca por vingança não é apenas movida pela raiva, mas também por uma tentativa de resgatar sua identidade em meio à violência que moldou sua vida. Esse conflito interno dá à personagem uma complexidade rara em filmes de ação e oferece ao público uma nova perspectiva sobre o universo de assassinos que aprendemos a conhecer com John Wick.
Anjelica Huston, já conhecida dos fãs da franquia, reforça a atmosfera enigmática da Ruska Roma com sua presença magnética, enquanto novos personagens ampliam o leque de figuras que habitam esse submundo de regras e contratos. A aparição de Norman Reedus é curta e deixa à desejar, podendo ter sido mais explorado pelo roteiro. A direção acerta em não transformar Bailarina em uma explosão de fan service, mas sim em um espetáculo autônomo com identidade própria.

Bailarina é uma afirmação de que o universo de John Wick tem fôlego para ir além do personagem-título. O filme entrega uma experiência intensa que honra suas origens enquanto aponta para novas possibilidades. É um passo ousado e bem-sucedido na expansão dessa franquia que redefiniu o cinema de ação contemporâneo.
Crítica por Pedro Gomes.
Bailarina: Do Universo de John Wick | Ballerina
Estados Unidos, 2025, 125min.
Direção: Len Wiseman
Roteiro: Shay Hatten
Elenco: Ana de Armas, Anjelica Huston, Keanu Reeves
Produção: Basil Iwanyk, Erica Lee, Chad Stahelski
Direção de Fotografia: Romain Lacourbas
Música: Tyler Bates, Joel J. Richard
Classificação: 18 anos
Distribuição: Paris Filmes
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