Crítica – Terremoto em Lisboa (O Melhor dos Mundos)

Ciência versus negacionismo, sem risco narrativo nem impacto do gênero.

Dirigido por Rita Nunes e protagonizado por Sara Barros Leitão, Terremoto em Lisboa (O Melhor dos Mundos) é um drama português lançado em 2024 que se aventura por territórios do suspense, da ficção científica e do filme catástrofe. O longa parte de uma premissa instigante e atual: o embate entre ciência e negacionismo diante de uma ameaça sísmica iminente. No entanto, ao hesitar entre gêneros e evitar riscos narrativos, o filme termina por ser tão contido quanto a tragédia que promete, mas que nunca se concretiza.

A trama acompanha Marta (Sara Barros Leitão) e Miguel (Miguel Nunes), um casal de cientistas que, junto a um grupo de especialistas, se depara com dados alarmantes sobre a possibilidade de um grande terremoto atingir Lisboa. O foco do enredo não está na destruição em si, mas no dilema ético que antecede a possível catástrofe: devem ou não alertar a população sobre o risco? O grupo se divide, e o conflito se desenrola tanto no plano coletivo quanto no íntimo, afetando diretamente a relação de Marta e Miguel.

Terremoto em Lisboa – Filmes do Estação (2024)

A força do filme reside justamente nesse conflito. O roteiro constrói um suspense sóbrio em torno das consequências das decisões dos personagens, equilibrando bem as tensões pessoais e profissionais. A dúvida constante sobre qual caminho será tomado mantém o espectador atento, enquanto os diálogos levantam questões pertinentes sobre responsabilidade científica, pânico coletivo e confiança no conhecimento técnico.

No entanto, Terremoto em Lisboa parece evitar qualquer tomada de posição mais contundente. Ao decidir não mostrar a catástrofe anunciada ou de oferecer uma conclusão clara para o impasse, o filme não só frustra as expectativas do gênero catástrofe como também abre espaço para interpretações ambíguas. A ausência de um desfecho, tanto narrativo quanto da discussão temática, deixa a sensação de que a obra hesita diante do próprio discurso, permitindo que o ceticismo científico exista como uma possibilidade válida, mesmo que não seja essa a intenção da obra.

Terremoto em Lisboa – Filmes do Estação (2024)

Essa falta de compromisso se estende à forma. Esteticamente, o filme adota uma linguagem realista e sóbria, típica do cinema independente europeu. Essa escolha estética dialoga bem com o drama íntimo, mas não se expande ao ponto de explorar o potencial visual e simbólico de um filme de ficção científica com elementos catastróficos.

Ao final, Terremoto em Lisboa soa mais como um episódio piloto de uma série dramática do que como um longa-metragem completo. A ausência de uma conclusão, tanto do destino dos personagens, quanto da ameaça sísmica, deixa o espectador suspenso num final aberto que, em vez de provocar reflexão, transmite uma sensação de incompletude.

Terremoto em Lisboa – Filmes do Estação (2024)

Ainda assim, é justo reconhecer os méritos do filme: o elenco entrega performances contidas, mas eficazes; a tensão e o suspense bem dosados; e o dilema ético é relevante e desperta curiosidade. O que falta é justamente o que mais se esperava de uma obra com essa proposta: coragem para se comprometer a mergulhar de cabeça ou subverter o gênero e a narrativa.

 

Crítica por Matheus Monteiro.

 

Terremoto em Lisboa | O Melhor dos Mundos
Portugal, 2024, 74 min.
Direção: Rita Nunes
Roteiro: Rita Nunes, João Cândido Zacharias
Elenco: Sara Barros Leitão, Miguel Nunes
Direção de Fotografia: Manuel Pinho Braga
Música: Eduardo Queiroz
Distribuição: Filmes do Estação

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