O retrato da dor silenciada de quem não tem permissão para sofrer.
A trama acompanha Una, uma jovem islandesa consumida pela dor do luto e por um segredo devastador. Envolvida com um homem comprometido, Una vê sua esperança ruir quando, no dia em que ele deixaria sua namorada para ficar com ela, ele morre tragicamente em um acidente de carro. Forçada a ocultar tanto o amor quanto a perda, Una precisa sufocar seu luto da mesma forma que escondeu sua história.
É difícil pensar na repressão de tantas emoções ao mesmo tempo. O amor, que já era proibido, não dá a personagem a permissão para sentir o luto da maneira correta. Remrimindo seus sentimentos, Una passa por situações cada vez mais difíceis

O filme mergulha no silêncio emocional que envolve Una, impondo ao espectador a dor de um luto que precisa ser escondido. Ao viver um amor clandestino com um homem comprometido, O fato de que esse homem faleça em um acidente trágico faz com que Una não perca só o parceiro, mas também o direito de reconhecê-lo como tal. O sofrimento que a atravessa é legítimo, intenso, mas precisa ser sufocado para manter as aparências. É nesse abismo doloroso entre o que se sente e o que se pode revelar que o filme constrói sua força.
A narrativa mostra de forma dolorosa como a sociedade determina quais dores são válidas e quais devem ser anuladas. Una não era apenas uma amante, Diddi mantinha um relacionamento duas mulheres, então Una, mesmo não sendo a “namorada oficial” inconscientemente sofrerá por sua morte. Una é forçada a seguir em frente sem luto oficial, sem rituais, sem consolo. Seu silêncio não é uma escolha, mas sim sua única opção. O filme denuncia, com delicadeza e brutalidade, como os afetos que fogem da norma são deslegitimados até em seus momentos mais humanos: a perda, a ausência, e o pior de tudo: a saudade.

Histórias de amor proibido são sempre vistas na arte cinematográfica. Mas além disso, o longa propõe uma reflexão profunda sobre os limites da empatia social. Quem decide quem pode sofrer? Quem tem o direito de sentir e de expressar sua dor? Acompanhando a jornada de Una, o filme convida o público a olhar com mais generosidade para as dores invisíveis. Sim, começar algu com alguém que já tem um relacionamento estável pode ser visto com maus olhos, mas o filme garante empatia com todas as personagens. Afinal, o luto é um sentimento universal.

Com um olhar sensível, o filme transforma a dor silenciada de Una em um grito sutil, mas inesquecível. Ao tratar do luto sem permissão, algo que raramente vemos no cinema e que é bastante comum na sociedade, ele nos obriga a confrontar os julgamentos que impomos aos outros. É um lembrete amargo de que nem toda perda é reconhecida, mas toda dor é real. O sofrimento mais devastador é aquele que não encontra espaço para existir.
Crítica por Pedro Gomes.
Filme assistido no Festival de Cinema Europeu Imovision.

Quando a Luz Arrebenta | Ljósbrot
Croácia, França, Países Baixos, Islândia, 2024, 82 min.
Direção: Rúnar Rúnarsson
Roteiro: Rúnar Rúnarsson
Elenco: Elín Hall, Mikael Kaaber, Katla Njálsdóttir
Produção: Sarah Chazelle, Igor A. Nola, Heather Millard
Direção de Fotografia: Sophia Olsson
Música: Ranko Pauković
Classificação: 14 anos
Distribuição: Imovision










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