Crítica – Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes)

Traição, guerra pelo poder e cobiça: “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” retrata o egoísmo da classe alta em meio ao desespero dos desfavorecidos.

Na nova obra da franquia Jogos Vorazes, 64 anos antes de se tornar o presidente tirânico de Panem, Coriolanus Snow vê uma chance de mudança na sorte quando é o mentor de Lucy Gray Baird, o tributo feminino do Distrito 12.

Paris Filmes e Lionsgate retornam com a franquia de Jogos Vorazes em uma adaptação do livro A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. Sabemos do perigo de “reviver” sagas que já haviam terminado, mas felizmente, esse longa-metragem consegue manter a qualidade dos filmes anteriores em um ritmo mais lento, com foco maior na construção do personagem e menor na ação que faz parte dos grandes Jogos. Uma obra interessante que mostra o passado do misterioso presidente.

The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes – Paris Filmes (2023)

É notável o comprometimento de Francis Lawrence para dirigir o novo filme. Com 2h43 de duração extremamente bem desenvolvidas, temos a belíssima construção de um vilão, pintando em tela a forma como o seu egoísmo o corrompeu durante todo o seu trajeto. O cenário, que se mostra encantador a todo momento, se junta à uma fotografia majestosa para criar uma imersão surpreendente, principalmente se visto em IMAX. A direção de arte também merece destaque, recriando uma Capitol menos exuberante do que conhecemos nos filmes anteriores, mas já dando pistas do luxo decadente que viria a dominar o futuro da cidade.

Um dos pontos fracos do filme é que, como ele mantém seus olhos para Snow, todos os outros personagens se tornam muito mal explorados, apesar de ser notável a complexidade e diferenças deles. Lucy Gray, interpretada por Rachel Zegler, tem momentos de brilho, especialmente nas cenas em que utiliza de sua poderosa voz, mas sua profundidade emocional poderia ter sido melhor desenvolvida, considerando sua importância na trama. Isso dá à história um tom mais “infantil”, visto que as personalidades dos personagens são facilmente rotuladas como “boas” ou “ruins”. A divisão da história em três capítulos faz com que o ritmo lento não se torne tão massante, permitindo que o espectador se adapte às diferentes fases da narrativa.

A trilha sonora (muitas vezes na bela voz de Rachel Zegler) e as atuações estão perfeitamente bem executadas, dando destaque para os personagens secundários de Peter Dinklage e Viola Davis. Dinklage traz uma presença sóbria e imponente, enquanto Viola Davis rouba cenas com sua interpretação intensa. A presença desses atores veteranos acrescenta camadas à narrativa, compensando um pouco a falta de aprofundamento em outros personagens.

The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes – Paris Filmes (2023)

Para agradar os fãs, temos muitas referências ao filme de 2012, que dão nostalgia na medida certa. Esses momentos criam uma ponte emocional entre o passado e o futuro da franquia, mas não são intrusivos ao ponto de depender da memória afetiva do público. Não visando apenas esse público-alvo, o filme é facilmente compreensível para quem desconhece a saga. O roteiro consegue se manter autônomo, introduzindo o mundo distópico de Panem de forma eficiente para novos espectadores, enquanto oferece um novo olhar sobre as origens da sociedade opressiva que conhecemos nos filmes anteriores.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um estudo fascinante sobre ambição, poder e corrupção. O arco de Snow é construído com sutileza, mostrando como pequenas escolhas moldam um homem e o conduzem ao caminho da tirania. Não se trata de uma redenção ou de uma tentativa de justificar suas ações futuras, mas sim de um mergulho em sua psique, revelando as fragilidades e vaidades que o levaram a se tornar o vilão que conhecemos.

The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes – Paris Filmes (2023)

No final, o filme se destaca por sua capacidade de equilibrar o novo e o familiar, oferecendo uma experiência cinematográfica imersiva e reflexiva. Mesmo com algumas falhas na construção de personagens secundários, o longa se sustenta com atuações fortes, direção competente e uma narrativa que expande o universo de Jogos Vorazes de maneira completamente satisfatória.

 

Crítica por Pedro Gomes.

 

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes | The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes
Alemanha/Estados Unidos, 2023, 157 min.
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Michael Lesslie, Michael Arndt
Elenco: Tom Blyth, Rachel Zegler, Peter Dinklage
Produção: Carl Woebcken, Christoph Fisser, Henning Molfenter
Direção de Fotografia: Jo Willems
Música: James Newton Howard
Classificação: 14 anos
Distribuição: Paris Filmes

 

Não perca nenhum conteúdo! Siga o Vi nos Filmes no Instagram, Youtube e Tiktok