Crítica – A Redenção – A História Real De Bonhoeffer (Bonhoeffer: Pastor. Spy. Assassin.)

Nunca é demais falar do que ainda está aqui.

A temática da Segunda Guerra Mundial e as consequências catastróficas do Nazismo no mundo não é novidade. Talvez um dos temas mais abordados no cinema nas últimas décadas, desde filmes premiados holllywoodianos como “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg, a premiados internacionais, como “O Filho de Saul”, de László Nemes. Falar sobre um período tão catastrófico da história recente é sempre acender um alerta vermelho sobre as implicações de regimes totalitários e ideologias de extermínio. Mais uma vez somos trazidos a este contexto em “A Redenção – A história real de Bohoeffer”, dirigido por Todd Komarnicki e protagonizado por Jonas Dassler.

O filme se propõe a contar através de um drama de guerra a vida do pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer. A vida de Dietrich se vê diretamente vinculada aos principais fatos relacionados ao crescimento do Nazismo na Alemanha e no mundo. Tendo sido forte opositor ao regime nazista e usando de suas crenças e convicções pacifistas para alertar ao mundo sobre o perigo da ascensão de Hitler ao poder, Bonhoeffer se torna peça fundamental nas engrenagens movidas à época, envolvendo se, não ironicamente, no plano de assassinato do líder alemão.

Bonhoeffer: Pastor. Spy. Assassin. – Paris Filmes (2024)

O filme em si possui uma narrativa clássica inerente a filmes dentro dessa temática. Usando de artifícios de suspense, terror psicológico e a atmosfera obscura do próprio período da Segunda Guerra, coloca o espectador frente aos conflitos de um jovem religioso que se vê diante de uma realidade monstruosa, em que a sua própria Igreja parece não ser capaz de lidar – sendo, como comprovado em momento posterior, por muitas vezes conivente. Através de uma narrativa que vai e volta no tempo, “A Redenção” visa fazer com que enxerguemos o problema central do Nazismo pelos olhos de Bonhoeffer, pela visão de alguém que acredita que ninguém pode se dizer maior do que Deus, e que Deus não faz distinção entre os seus, criando raças superiores e inferiores.

Os fatos históricos não são, para nós, nenhuma novidade. Sabemos exatamente como eles se desenvolveram. Entretanto, o filme nos põe dentro dos pormenores que apenas aqueles diretamente viventes à época poderiam ter. Ao mostrar que até mesmo os mais defensores da paz e da bondade podem – pela esperança de se acabar com um mal já existente – optar por medidas extremas, obriga-nos a pensar em como nem sempre é possível seguir apenas pela linha da não-agressão. Ou se age de forma direta ou se obriga a conviver com as consequências de uma grande omissão.

Bonhoeffer: Pastor. Spy. Assassin. – Paris Filmes (2024)

Talvez um dos pontos mais interessantes do filme seja a abordagem do sacerdócio humanizado. Olhar para os “homens de Deus” não como figuras intocáveis e desprovidas de vontades mundanas e vida própria, mas que suas vidas se dêem em comunhão com a comunidade. Em prol do bem-estar social daqueles que estão em seu entorno. O Bonhoeffer mostrado nas telas faz jus ao homem real, cujo legado ainda se estende até os dias de hoje através de sua obra publicada. O filme condensa sua história nos fatos mais importantes, modificando algumas situações e optando por não falar de outras, mas atinge o objetivo proposto: mostrar a luta contra o Nazismo, o extermínio em massa dos judeus e de todos aqueles considerados inferiores ao pensamento hitlerista.

Por se tratar de uma obra que se pauta em fatos, mas tem nuances criativas, há liberdades artísticas de cunho dramático-narrativo. Nada disso, contudo, é feito de forma leviana. Falar sobre o Nazismo é causar comoção. Se não nos comovermos com um genocídio, onde estará a nossa humanidade?

Bonhoeffer: Pastor. Spy. Assassin. – Paris Filmes (2024)

Frente a tudo isso, vem em mente uma pergunta que surge como uma pequena agulha que espeta vagarosamente a pele: ao olharmos para os anos dessa Guerra, não estamos diante da nossa própria realidade? Não é possível olhar para trás e respirar com alívio por se tratar de um passado não mais existente. E enquanto o presente ainda se misturar com o que – para muitos – trata-se apenas de história, filmes como este serão necessários para relembrar a todos que essa mesma história tende a ser cíclica e, portanto, se repetir. Cabe a nós quebrar o seu fluxo de existência. Essa é a mensagem do filme. A urgência.

 

Crítica por Bianca Rolff.

 

A Redenção: A História Real De Bonhoeffer | Bonhoeffer: Pastor. Spy. Assassin.
Bélgica/Irlanda, 2024, 132 min.
Direção: Todd Komarnicki
Roteiro: Todd Komarnicki
Elenco: Jonas Dassler, Phileas Heyblom, August Diehl
Produção: Jonathan T. Coleman, Christophe Mazodier, Todd Komarnicki
Direção de Fotografia: John Mathieson
Música: Gabriel Ferreira, Antonio Pinto
Classificação: 14 anos
Distribuição: Paris Filmes

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