Crítica – O Aprendiz (The Apprentice)

A criação de Donald Trump em uma cinebiografia gloriosamente vulgar.

Extremamente aclamado por seu último filme (“Holy Spider”), Ali Abbasi se arrisca ao entregar uma polêmica e gloriosa cinebiografia do ex-presidente dos Estados Unidos: Donald Trump. A obra examina a ascensão do político, explorando seu caminho para o poder e a cultura de corrupção que o cercou ao longo dos anos.

Retratando as estratégias utilizadas por ele para construir sua imagem pública, a trama expõe de que forma Trump adquiriu sua relevância com o passar do tempo, explorando o lado obscuro dessa jornada e revelando um caminho marcado por manipulações, arrogância e alianças controversas.

The Apprentice – Diamond Films (2024)

“O país é o maior cliente.”

A obra tem um excelente desenvolvimento com início na parceria entre Trump e o advogado Roy Cohn, que foi essencial para fazer do empresário um personagem cuidadosamente construído para promover a ideia de um “vencedor”. Conhecido por inúmeras notas de corrupção para vencer seus casos, ele o tempo todo destaca a centralidade do governo e da política como fonte de poder e influência. A edificação do relacionamento entre ambos retrata como para pessoas no topo da cadeia de poder, controlar ou influenciar o governo é o verdadeiro caminho para a riqueza.

Ali Abbasi tem um estilo muito característico de direção ao revelar facetas obscuras de seus personagens, e aqui não é diferente. É inegável que o personagem de Sebastian Stan é uma das figuras políticas mais relevantes dos últimos anos dos Estados Unidos e Abbasi faz questão de explorar sua dualidade, revelando camadas de moralidade, desejos reprimidos e comportamentos que desafiam as normas sociais.

The Apprentice – Diamond Films (2024)

“Bom saber que perdeu o último fiapo de decência que um dia teve.”

É notável com o desenrolar do filme a transformação de Trump em alguém que já não conta mais com qualquer senso de moralidade ou decência. Ele chega ao final da história completamente envolvido em traições e no meio de um jogo de corrupção e influência, refletindo o tema do longa sobre a degradação moral como um preço a pagar pelo sucesso no mundo de poder que Cohn e Trump habitam.

A corrupção está presente durante todo esse trajeto, especialmente quando figuras como os dois personagens buscam consolidar a influência a qualquer custo. Quando o poder é a moeda mais valiosa, as normas de comportamento e a justiça são frequentemente ignoradas, e o sucesso é medido pela capacidade de vencer de qualquer maneira, mesmo que isso implique em comprometer a própria integridade.

A atuação de Stan está avassaladora, encarnando um Trump completamente sem empatia e certo de seus objetivos. Jeremy Strong consegue roubar a cena com uma presença hipnotizante em tela, e até mesmo em momentos com poucas falas, seus olhares entregam profundidade e complexidade, capturando perfeitamente a essência de Cohn como uma figura manipuladora e mau-caráter.

The Apprentice – Diamond Films (2024)

Em suma, “O Aprendiz” é um filme que certamente será reconhecido pela força de suas atuações e pela direção estratégica. O público pode esperar um mergulho provocativo na vida de Donald Trump, expondo os mecanismos imorais que sustentaram sua ascensão. A crítica ao mundo dos negócios e da política é muito clara, e exemplifica a forma que muitos cruzam os limites da ética para alcançar o sucesso.

 

Crítica por Pedro Gomes.

Filme assistido no Festival do Rio – Rio de Janeiro Int’l Film Festival (2024)

 

O Aprendiz | The Apprentice
Canadá/Dinamarca/Irlanda/Estados Unidos, 2024, 123 min.
Direção: Ali Abbasi
Roteiro: Gabriel Sherman
Elenco: Sebastian Stan, Jeremy Strong, Maria Bakalova
Produção: Ali Abbasi, Daniel Bekerman, Kristina Börjeson
Direção de Fotografia: Kasper Tuxen
Música: Martin Dirkov, David Holmes, Brian Irvine
Classificação: 16 anos
Distribuição: Diamond Films

 

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