Crítica – Motel Destino

O sexo como personagem principal em um psicodélico orgasmo de horror.

“Motel Destino” chega como o primeiro capítulo de uma trilogia dirigida por Karim Aïnouz e se consagra como o melhor filme do ano até agora. Na trama, acompanhamos Heraldo, um jovem de 21 anos que, após ser jurado de morte, se refugia em um decadente motel, aguardando que a poeira baixe. Durante sua estadia, ele se envolve em um perigoso triângulo amoroso com o dono do estabelecimento e sua esposa, que também é funcionária.

O sexo aqui é utilizado como um poderoso catalisador de tensão, desempenhando um papel crucial na dinâmica emocional e psicológica dos personagens. No Motel Destino, o sexo vai além de um simples ato físico, expondo vulnerabilidades, desejos reprimidos e conflitos internos. Além de intensificar as desavenças, ele se torna um símbolo de poder e controle. A tensão está presente em cada toque, tanto para os personagens quanto para nós, espectadores.

Motel Destino – Pandora Filmes (2024)

A direção visual é intencionalmente intimista. Como um filme noir em neon, o uso estratégico de cores como vermelho e azul na fotografia cria um clima psicodélico, remetendo a uma experiência alucinógena. O vermelho, vibrante e ardente, está associado à paixão, ao perigo e ao desespero presentes naquele ambiente claustrofóbico. Essa cor contrasta diretamente com o azul, que evoca sentimentos de frieza, alienação e mistério. Essa é, sem dúvida, uma das características mais marcantes do filme, conferindo a ele um ar de introspecção e mistério. A dualidade entre essas cores opostas reflete a batalha interna dos personagens, entre sentimentos conflitantes como desejo e medo, paixão e razão, real e irreal, criando uma sensação de instabilidade. A realidade parece sempre distorcida, e o perigo é constante.

A direção de Karim Aïnouz é uma verdadeira obra de arte cinematográfica, uma aula sobre como tecer uma narrativa de forma a provocar emoção no espectador. Ele utiliza o espaço limitado do motel não como uma restrição, mas como um palco onde os dramas desse triângulo amoroso se desenrolam de maneira intensa e íntima.

Motel Destino – Pandora Filmes (2024)

Fábio Assunção entrega a melhor interpretação de sua carreira, conseguindo criar um personagem que oscila entre o carisma e o terror. O bom humor de Elias serve como um disfarce para a verdadeira natureza do vilão, gerando uma sensação de desconforto, como se algo sombrio estivesse prestes a acontecer. Esse antagonista, criado por Wislan Esmeraldo e Mauricio Zacharias, não é apenas uma figura a ser temida, mas também fascinante e intrigante para o público.

Iago Xavier, em sua estreia, oferece uma atuação avassaladora. Ele demonstra um imenso potencial para dar vida a personagens complexos e repletos de nuances. Xavier transmite de forma impressionante os dramas e sofrimentos vividos por Heraldo, e, com o trabalho magistral de som no filme, sua atuação se torna ainda mais marcante. Não é à toa que o filme foi ovacionado por mais de dez minutos no Festival de Cannes. O trabalho de todos aqui é, de fato, espetacular.

Motel Destino – Pandora Filmes (2024)

O discurso final não é apenas poético, mas também forte e impactante, sendo um dos momentos mais poderosos do filme. Ele resume a complexidade de todos os temas abordados ao longo da trama. Não é apenas um monólogo poético, mas também um grito de socorro, repleto de exaustão. Somos convidados a confrontar a realidade brutal do que o personagem carrega consigo. “Motel Destino” é um épico brutal que permanecerá na memória por muito, muito tempo. Os encantos e a sensualidade desse ambiente em decadência são um marco para o cinema.

 

Crítica por Pedro Gomes.

 

Motel Destino
Brasil/França/Alemanha, 2024, 112 min.
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Wislan Esmeraldo, Mauricio Zacharias
Elenco: Iago Xavier, Nataly Rocha, Fábio Assunção
Produção: Gabrielle Tana, Janaina Bernardes, Caio Gullane
Direção de Fotografia: Hélène Louvart
Música: Benedikt Schiefer
Classificação: 18 anos
Distribuição: Pandora Filmes

 

 

Não perca nenhum conteúdo! Siga o Vi nos Filmes no Instagram, Youtube e Tiktok